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    Ixcanul
    Críticas AdoroCinema
    3,0
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    Ixcanul

    A cultura alheia

    por Bruno Carmelo

    É admirável que um pequeno drama da Guatemala tenha sido selecionado para a competição oficial do prestigioso festival de Berlim. A Berlinale, conhecida por favorecer a descoberta de novos talentos e conferir grande atenção às obras latino-americanas, se rendeu a este retrato sobre a cultura de um pequeno povoado Maia Kaqchikel, que vive da agricultura aos pés de um vulcão.

    Ixcanul impressiona pela beleza de suas imagens, cuidadosamente enquadradas e fotografadas. O diretor Jayro Bustamante acerta ao fazer um retrato comedido da natureza, mantendo o naturalismo acima do estetismo. Ele acompanha de perto a rotina de Maria (María Mercedes Croy), uma adolescente que sonha em fugir a um casamento arranjado e partir para os Estados Unidos.

    Com a calma de um antropólogo, o roteiro acompanha cada tradição, ritual e superstição de María e seus pais. A ideia que uma gravidez possa ser interrompida com orações, ou que mulheres grávidas tenham o poder de espantar cobras chegou a despertar risos na plateia, mas não foi vista com o menor exotismo pelo diretor. Ixcanul demonstra aquele respeito sério que se mantém pelas culturas que não se conhece muito bem, e que já se encontram em posição frágil o suficiente para serem desrespeitadas.

    Por trás de tamanho respeito, no entanto, esconde-se uma obra fria. Bustamante acompanha a vida da família de maneira distante, externa, sem situar as ações do ponto de vista de María, ou lhe fornecer ações para expressar o que sente. A garota, com pouquíssimas falas ao longo da narrativa, torna-se um corpo útil à tese do cineasta, um exemplo raro de garota Maia Kaqchikel, sem grandes particularidades ou vontades.

    Assiste-se a Ixcanul como se ouve à palestra de algum conhecedor sobre a cultura de povos distantes: com profundo respeito e interesse, mas sem empatia pelas histórias individuais que esses indivíduos possam ter.

    Filme visto no 65º festival de Berlim, em fevereiro de 2015.

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