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    Permanência
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Permanência

    Amores retóricos

    por Bruno Carmelo

    “Tudo bem? Tudo”. “Quer um casaco emprestado? Não precisa”. “Você ainda faz um bom café. Obrigado”. “Seu pai está bem? Está”. “Foi tudo bem hoje? Foi”. Permanência é um drama cuja maioria dos diálogos segue o tom truncado, banal, com aquelas frases que a gente diz por educação ou apenas para quebrar o gelo. As falas não têm sequência, não geram conflito, não despertam ações. As pessoas conversam olhando para baixo, com grandes pausas entre cada frase, em tons tristes, melancólicos.

    Esta é a proposta do diretor Leonardo Lacca: esvaziar seu filme de qualquer irrupção espetacular ou sentimental, construindo uma narrativa minimalista sobre o amor duradouro entre o fotógrafo Ivo e a desenhista Rita, hoje casada com outro homem. Depois de muito tempo juntos, o pernambucano passa por São Paulo para uma exposição de suas obras, e fica hospedado na casa de Rita, onde os antigos sentimentos ressurgem.

    Para privilegiar as pequenezas, o cineasta evita as reviravoltas narrativas, as cenas de catarse (grito, choro, gozo). A estética acompanha esta abordagem voluntariamente apática: as cores são frias e neutras (brancos, beges, cinzas), acentuadas pela fotografia contrastada e pelos cenários lisos, com paredes esbranquiçadas (na casa, na usina, na galeria), onde Lacca filma Irandhir Santos no centro do enquadramento, do modo mais simples possível. Não são explorados os volumes, os espaços, as texturas. A câmera se mantém fixa, a alguns passos de seus personagens, como se tivesse medo de chegar perto demais.

    A imagem e a narrativa caminham de maneira linear, sem asperezas, sem sobressaltos. Permanência parece um filme eternamente suspenso, como se vagasse sem rumo preciso – e como se também não quisesse chegar a nenhum lugar específico. Neste território depressivo, o sexo é algo triste, a abertura de sua primeira galeria é triste, uma noite regada a maconha é triste, visitar uma cidade querida é triste. Lacca criou um filme sonâmbulo, tão delicado quanto inerte.

    Desmunidos de evoluções internas, de ações ou diálogos expressivos, os atores tentam carregar no olhar a força de seus personagens. Ivo (Irandhir Santos) tem os olhos marejados quando recebe uma mensagem da namorada pernambucana, Rita (Rita Carelli) mostra-se perturbada quando encontra o ex-namorado para um café, Laís (Laila Pas) carrega uma fúria inconsequente nos olhos durante uma transa, Mauro (Sílvio Restiffe) encara a esposa com raiva e ciúmes quando percebe a paixão pelo antigo namorado. Estes personagens parecem prestes a tomar grandes decisões que nunca realmente se concretizam.

    Por seu teor calculadamente vago, Permanência também poderia se chamar Ausência, Indulgência, Latência, Essência, Iminência. Leonardo Lacca demonstra um domínio invejável das funções técnicas, todas muito coerentes com o imperativo de esvaziamento e simplicidades. Mas por privar o espectador de um único momento forte sequer, uma única catarse, uma única explosão, acaba por construir uma experiência tão bela quanto fria.

    Filme visto no 19º Cine PE Festival Audiovisual, em maio de 2015.

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    Comentários

    • Elias
      Esta resenha foi até bastante generosa com um filme que é uma verdadeira bosta. Até os atores, que são excelentes, passam a parecer amadores ao fazerem parte de uma narrativa que não diz quase que absolutamente nada, a não ser para a cabeça de seus produtores. Realmente nenhuma profundidade. O sentimento ao final do filme é o de total perda de tempo.
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