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    PéPequeno
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    PéPequeno

    Congelando o preconceito

    por Barbara Demerov

    Fora os visuais estonteantes e personagens carismáticos, por muitas vezes as animações infantojuvenis trazem consigo análises ou até mesmo críticas com relação a nossa sociedade. Diferentes roupagens, épocas ou até mesmo universos não são nenhum obstáculo quando há a possibilidade de dialogar com o público e abrir sua mente. PéPequeno é mais um exemplo de que o entretenimento pode ser tratado com seriedade até mesmo no local mais inusitado; neste caso, no Himalaia.

    Ultrapassando padrões estipulados em animações, o longa aproveita elementos já bem conhecidos como a trilha-sonora e as piadas entre personagens para tornar a história mais leve e divertida, mas ao mesmo tempo não se afasta da possibilidade de registrar uma sobriedade bem-vinda, especialmente pela temática entrelaçada à trama do protagonista Migo: o medo e o preconceito.

    Alterando a lenda do Pé Grande e transformando os yetis em uma sociedade tão racional quanto a nossa, PéPequeno troca as perspectivas e torna os humanos as criaturas "abomináveis". Na cultura deles, nós que somos uma lenda e há uma grande tensão quando o assunto vem à tona. Porém, quando Migo vê um acidente de avião e, por consequência, um homem, toda sua visão do mundo (e de si mesmo) muda. A partir daí, a interação com os "pé pequenos" é mais do que necessária para ajudar sua família e amigos a expandirem suas perspectivas e também a se conhecerem melhor. As semelhanças com a sociedade atual tornam-se evidentes quando o diálogo de conhecer e entender algo "novo" é um problema, transformando em ódio aquilo que deveria ser uma possibilidade de crescimento.

    Há outros pequenos grandes elementos contidos na narrativa. O fato das línguas dos yetis e dos humanos se divergirem não impede que ambos consigam se entender. São nesses momentos cômicos e aparentemente leves que fica a reflexão: é possível haver a interpretação correta mesmo falando e agindo de modos diferentes. Com o passar do tempo, a ideia de ambos os lados acharem que estão diante de um monstro é esquecida, e as relações interpessoais vão progredindo, assim como os aprendizados sobre passado e presente.

    O visual de PéPequeno é tão rico quanto a dimensão do enredo. Detalhes do ambiente em que os yetis vivem dificilmente passam despercebidos, e as cores, mescladas entre o azul e o roxo, transmitem a leveza e pureza do alto das montanhas, ao mesmo tempo em que a mistura de cores e uma maior informação em tela seja utilizada para ambientar os cenários dos homens.

    O medo é o alimento de conflitos mais graves, especialmente quando o diálogo se faz ausente. PéPequeno mostra que a visão mais receptiva para o novo pode trazer surpresas agradáveis, que somam algo em nossas realidades. Adicionalmente, a animação também deixa uma lição para a vida (e de forma lúdica às crianças): o preconceito só existirá enquanto a percepção ao diferente for limitada. Assim como com os yetis, não adianta viver no topo do mundo e não enxergar o horizonte. Às vezes, devemos olhar para os lados – ou até mesmo para baixo.

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