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    Chronic
    Críticas AdoroCinema
    4,0
    Muito bom
    Chronic

    Título preciso

    por Francisco Russo

    Após despontar com o tenso Depois de Lúcia, vencedor da mostra Un Certain Regard no Festival de Cannes 2012, o diretor mexicano Michel Franco retornou à Croisette com seu novo longa-metragem, Chronic. Por mais que traga uma história bem diferente, são várias as analogias que podem ser feitas entre este e seu filme anterior.

    O longa-metragem acompanha o dia a dia de David, um enfermeiro que cuida de pacientes terminais em suas próprias casas. Bastante dedicado, ele logo se torna um grande companheiro para os doentes, que podem contar não apenas com seu apoio mas também ao realizar tarefas extras, independentes das funções de seu emprego. David, na verdade, é um homem bastante solitário e ocupa sua vida ao saltar de paciente a paciente.

    O mais interessante de Chronic é justamente o modo como Michel Franco optou por contar esta história: acompanhando o dia a dia de seu personagem principal, em suas tarefas mais corriqueiras. Desta forma, as sequências são longas e sem pressa, ressaltando atos absolutamente cotidianos mas que revelam muito sobre o estilo de vida sem grandes emoções que leva. O mesmo vale para os momentos em que está com seus pacientes, muitas vezes simplesmente lavando seus corpos com extremo cuidado ou ajudando em momentos delicados, como quando uma senhora tem diarreia e suja a própria calça. São situações em que, mais do que realizar corretamente o serviço pelo qual é pago, dão a David uma intimidade singular que abre brechas para as tarefas extras que executa, nem sempre bem compreendidas.

    Para ressaltar o lado burocrático de tais atos, Franco utiliza uma câmera que pouco se movimenta e, em certos momentos, até deixa personagens coadjuvantes fora do enquadramento. O pouco que vemos de David fora do trabalho ressalta um homem que deseja se manter longe das emoções, por mais que haja uma tentativa de reaproximação com uma jovem que, aparentemente, é sua filha. Este é apenas um dos vários mistérios trazidos pelo longa, que não dá todas as respostas ao espectador de forma que cresça cada vez mais a curiosidade sobre quem é este homem tão dedicado e, ao mesmo tempo, tão só. Funciona.

    Por outro lado, Chronic traz muito do estilo de narrativa de Depois de Lúcia. O relato realista dos fatos, o modo seco ao contar a trama, são os mesmos. Até o desfecho traz uma semelhança de formato, a qual não contarei aqui para não estragar a surpresa – e a discussão em torno do que acontece. Trata-se de um filme cuja força maior é a maneira como foi conceituado pelo diretor, além da boa atuação, contida, de Tim Roth. Muito bom.

    Filme visto no 68º Festival de Cannes, em maio de 2015.

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