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    A Ilha do Milharal
    Críticas AdoroCinema
    5,0
    Obra-prima
    A Ilha do Milharal

    O som ao redor

    por Lucas Salgado

    Representante da Geórgia na corrida pelo Oscar de Melhor Filme Estrangeiro para a última edição da premiação, A Ilha do Milharal é uma pequena pérola. E a parte do "pequena" não deve jogar contra o filme. É pequeno por se tratar de uma produção independente de um país cuja cinematografia não é nada conhecida e que, por isso, deve passar quase despercebido. Mas estamos diante de um grande longa, que traz uma bela e original história em um cenário encantador e ao mesmo tempo ameaçado. Em termos cinematográficos, estamos diante de uma grande obra. 

    Anualmente, camponeses aproveitam-se da diminuição do nível da água de um rio durante parte da temporada para ocupar pequenas ilhas com plantações de milhos. Isto é uma tradição local que o filme trata de explicar em uma cartela de texto na abertura. Não é fundamental para entrar na história, mas é interessante para o leitor saber.

    A ilha, a plantação, o trabalho... Tudo ali é temporário. Ainda que tudo seja permanente no sentido de que se trata de uma tradição. A trama gira em torno de um senhor (İlyas Salman) e sua neta (Mariam Buturishvili). Os dois se mudam para a pequena ilha e só saem de lá para buscar algo na cidade ou levar os primeiros retornos da plantação.

    O camponês representa a experiência, a tradição de muitos e muitos homens que vieram antes dele. Já a garota é o novo, mas não o novo que vem para romper com o antigo. Ela tem interesse nos costumes, mas como jovem adolescente, ela tem que conviver com a descoberta do corpo em meio a um cenário pouco acolhedor.

    O filme conta com um trabalho de design de som fantástico, contando com uma mixagem extraordinária, que mescla bem a trilha sonora e o "som ao redor". Por sinal, não houvesse o filme brasileiro, este seria um bom título para a produção. Som abrange não só as (poucas) conversas entre os personagens, mas tudo que está em volta. O rio, a chuva e os animais, mas também os barulhos de tiros vindos de conflitos armados perto dali.

    A Ilha do Milharal é um drama, mas que tem seus momentos de terror. O clima de tensão é impressionante e nasce do completo abandono dos personagens. A jovem Mariam Buturishvili surge muito bem na pele da menina e a própria presença de uma garota, às margens da puberdade, em um local cercado por ameaças e sem nenhuma segurança é suficiente para deixar o espectador num estado permanente de suspense e tensão.

    Intrigante e envolvente por seus 100 minutos de duração, o longa conta com uma direção soberba de George Ovashvili, que parece sempre colocar a câmera no melhor local possível, gerando tomadas belíssimas. Neste sentido, cabe elogiar ainda o trabalho do diretor de fotografia Elemér Ragályi e a montagem de Sun-min Kim. O filme mescla muito bem a utilização de tomadas amplas com planos-detalhes com objetos do dia a dia dos moradores da ilha, que vão desde uma pá a uma boneca.

    A produção parece dizer pouco e silenciosamente. Mas a verdade é que tem muito a dizer.

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