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    Summer
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Summer

    Fábula de amadurecimento

    por Bruno Carmelo

    No início, este filme holandês se concentra nos espaços: estamos num vilarejo conservador da Holanda, à beira de uma usina elétrica onde trabalham quase todos os homens do local. A diretora Colette Bothof revela um grupo de adolescentes passeando de bicicleta pelo campo, ao longo das torres elétricas, perto das gigantescas construções de concreto da usina. Em câmera lenta, vemos os jovens passeando, se divertindo, se aborrecendo. Estamos no verão, em época de férias.

    A protagonista é Anne (Sigrid ten Napel), garota que descobre os relacionamentos amorosos em um cenário desolador: seus pais são amargos e não se amam, as mulheres adultas da vizinhança sofrem com a violência doméstica ou com estupros. Apesar do olhar pessimista ao amor, e da visão um tanto negativa da masculinidade – todos os homens são infantis e agressivos – Summer é conduzido com leveza, sugerindo uma violência não retratada nas imagens. A grande força do filme é depositada em metáforas, e no olhar da atriz.

    Essa jovem atriz, aliás, merece um destaque à parte. Sigrid ten Napel constrói uma garota tímida, mas riquíssima de ideias e impulsos. Seu rosto expressivo alterna entre o olhar vago e os flertes incisivos. A atuação é tão boa que eleva o filme a outro patamar. Felizmente, a diretora tem consciência deste talento e cola a câmera ao rosto de sua atriz sempre que pode. Em silêncio, apenas com olhares e hesitações, a protagonista expressa um mundo inteiro de tensões próprias à adolescência. A descoberta da homossexualidade, quando se apaixona por uma garota rejeitada da cidade, é vista como uma explosão de desejo, uma irrupção de felicidade para uma garota tímida, que os colegas julgavam insignificante.

    É uma pena que, após dois terços de narrativos tão bem conduzidos, Summer force a mão rumo à conclusão. Neste momento, as cenas tornam-se melodramáticas, as reviravoltas são abruptas (vide a demissão de Anne) e até uma aparição religiosa toma conta das imagens. Bothof decidiu que precisaria aumentar o tom para concluir a sua história, enquanto seu desenvolvimento paulatino já dava conta com recado muitíssimo bem. Mesmo assim, Summer se destaca como uma obra inteligente e respeitosa sobre a passagem à fase adulta.

    Filme visto no Rio Festival Gay de Cinema, em julho de 2015.

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