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    De Gravata e Unha Vermelha
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    De Gravata e Unha Vermelha

    Junto e misturado

    por Francisco Russo

    Em fevereiro de 2015, o Facebook permitiu que os próprios usuários definissem sua identidade de gênero. A iniciativa não foi inédita, já havia ocorrido no Google+ e Tumblr, e visa justamente atender à imensa variedade de definições sexuais hoje existente, um cenário pouco conhecido por quem ainda se atém ao binômio masculino e feminino. É justamente esta a questão principal do documentário De Gravata e Unha Vermelha, vencedor do Prêmio Felix no Festival do Rio 2015, que impressiona pela quantidade e simplicidade dos relatos apresentados.

    Mais do que propriamente se aprofundar em questões específicas do universo LGBT, a diretoraMiriam Chnaiderman está mais interessada é em ressaltar a diversidade existente e, desta forma, abre espaço para todos. Apesar de haver uma clara tendência a símbolos do porte de Ney Matogrosso, Laerte e Rogéria, com cada um deles recebendo um bom espaço para narrar sua trajetória e a luta enfrentada contra o preconceito, há também anônimos dos mais variados tipos, que relatam suas angústias pessoais, do passado e do presente. É através deles que o filme demonstra sua real força, com depoimentos surpreendentes e até emocionantes, em alguns casos. O maior exemplo é Letícia Lanz, cujo sofrimento é tão bem expresso através do olhar e que, ao longo do filme, é possível notar um brilho a mais ganho à medida em que sua história de vida chega ao momento atual.

    Dos nomes mais conhecidos entrevistados, quem traz uma influência mais decisiva para o documentário é Laerte. Não apenas pelas declarações contundentes e bem-humoradas de sua aceitação como transexual, mas também pela presença de várias de suas tiras em quadrinhos ao longo de todo o filme. Usando como base temas como discriminação e a descoberta da homossexualidade, elas não apenas retratam muito bem o universo apresentado como também inserem humor. Esta, por sinal, é uma característica do longa-metragem: por mais que os entrevistados volta e meia citem situações tristes e desconfortáveis que vivenciaram, não é esta a tônica buscada. A ideia maior é ressaltar a diversidade existente nesta busca em ser feliz consigo mesmo, da forma que for, sem tender para qualquer lado – uma espécie de celebração, por assim dizer.

    Se por um lado a proposta de ser um espaço amplo funciona no sentido de dar ao espectador uma noção sobre a riqueza do tema, por outro De Gravata e Unha Vermelha peca por não se aprofundar em determinados momentos. Diante de tantas histórias ricas que passam por temas sensíveis e importantes, como o uso (ou não) de hormônios, a necessidade (ou não) de fazer a operação de mudança de sexo, o lado emblemático da depilação e a manutenção (ou não) do nome original, o filme por vezes passa rapidamente por elas de forma a trazer cada vez mais, ao invés de decupar melhor cada um de seus elementos – algo que também acontece devido ao grande número de entrevistados. São os prós e contras de sua proposta conceitual, que fazem com que por vezes se torne redundante e até cansativo. Ainda assim, é um filme riquíssimo pela variedade de temas abordados e importante também devido à onda de conservadorismo que, infelizmente, assola o Brasil.

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