Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda do Santuário (2014), dirigido por Keiichi Sato e produzido por Masami Kurumada, é um filme que busca reinventar a clássica franquia Saint Seiya para uma nova geração, utilizando animação CGI e uma narrativa condensada. O filme, que adapta o icônico arco das 12 Casas do Zodíaco, é uma experiência visualmente ousada, mas que divide opiniões quanto ao seu desenvolvimento narrativo e fidelidade ao material original.
Um dos aspectos mais marcantes de A Lenda do Santuário é, sem dúvida, a sua animação em CGI. A Toei Animation optou por um estilo visual moderno e arrojado, distanciando-se da estética tradicional do anime dos anos 80 e 90. O resultado é um filme que impressiona pela fluidez das cenas de ação e pela grandiosidade dos cenários, especialmente durante as batalhas nas 12 Casas do Zodíaco. As sequências de combate são coreografadas com dinamismo e impacto, destacando-se como o ponto alto do filme.
A representação dos Cavaleiros de Ouro, em particular, é um dos grandes trunfos visuais. Cada personagem foi cuidadosamente redesenhado para refletir sua personalidade e poder, com trajes que combinam elementos clássicos com um toque futurista. A Casa de Libra, por exemplo, é um espetáculo à parte, com sua atmosfera mística e detalhes visuais que capturam a essência da mitologia da série.
No entanto, a escolha pelo CGI também tem seus detratores. Alguns fãs criticam a perda do charme artesanal da animação tradicional, argumentando que o estilo 3D pode parecer impessoal em certos momentos, especialmente em cenas mais emotivas ou diálogos. Ainda assim, é inegável que o filme representa uma tentativa válida de modernizar a franquia, trazendo-a para o século XXI com uma linguagem visual contemporânea.
Embora a animação seja um ponto forte, o roteiro de A Lenda do Santuário é onde o filme mais divide opiniões. A decisão de condensar o arco das 12 Casas em pouco mais de 90 minutos resulta em uma narrativa apressada, que sacrifica a profundidade dos personagens e a complexidade dos conflitos. No mangá e no anime original, cada Cavaleiro de Ouro tinha um papel significativo, com motivações e histórias pessoais que enriqueciam a trama. No filme, muitos desses personagens são reduzidos a meros obstáculos para os protagonistas, sem o mesmo peso emocional ou desenvolvimento.
A relação entre os Cavaleiros de Bronze e Saori (Atena) também sofre com a falta de tempo para explorar suas dinâmicas. A jornada de Seiya e seus companheiros, que no material original era marcada por sacrifícios, superação e laços de amizade, aqui parece mais superficial e menos impactante. A tensão e o drama que caracterizaram o arco das 12 Casas são substituídos por uma narrativa mais linear e previsível, o que pode decepcionar os fãs mais antigos.
Outro ponto controverso é a reinterpretação de alguns elementos da mitologia da série. Enquanto algumas mudanças, como a representação visual das armaduras e dos cenários, são bem-vindas, outras, como a simplificação dos conflitos filosóficos e morais que permeiam a história original, são vistas como perdas significativas. A decisão de "modernizar" a trama para atrair novas audiências acabou por diluir parte da essência que tornou Saint Seiya tão especial.
Um dos aspectos mais celebrados de A Lenda do Santuário no Brasil é, sem dúvida, a sua dublagem. Produzida pela Dubrasil, a versão brasileira do filme manteve a maioria dos dubladores originais da série clássica, o que foi recebido com entusiasmo pelos fãs. A direção de Zodja Pereira e Hermes Baroli garantiu que o tom e a emoção dos personagens fossem preservados, criando uma experiência nostálgica e ao mesmo tempo fresca.
Hermes Baroli, como Seiya, continua a ser a voz perfeita para o protagonista, capturando sua coragem e determinação. Élcio Sodré (Shiryu), Francisco Brêtas (Hyoga), Ulisses Bezerra (Shun) e Leonardo Camilo (Ikki) também entregam performances memoráveis, mantendo a identidade dos personagens que marcaram gerações. A exceção foi o falecido Valter Santos, cuja ausência foi sentida, mas o restante do elenco conseguiu honrar seu legado.
A dublagem brasileira não apenas manteve a qualidade técnica, mas também trouxe um nível de carisma e emoção que complementou a experiência do filme. Em um contexto onde adaptações frequentemente optam por recasts completos, a decisão de manter o elenco original foi um acerto que reforçou a conexão emocional dos fãs com a obra.
Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda do Santuário é um filme que divide opiniões, mas que certamente merece reconhecimento por sua ousadia e tentativa de revitalizar uma franquia clássica. A animação em CGI, embora não agrade a todos, é um marco técnico que demonstra o potencial de modernização da série. No entanto, o roteiro apressado e a simplificação de elementos narrativos cruciais deixam a desejar, especialmente para os fãs mais antigos.
Por outro lado, a dublagem brasileira é um ponto alto incontestável, mantendo viva a magia da série original e proporcionando uma experiência emocionalmente rica para o público nacional. No fim, A Lenda do Santuário é uma obra que, apesar de suas falhas, consegue homenagear o legado de Saint Seiya enquanto tenta abrir novas portas para o futuro da franquia. Para os fãs, é uma experiência imperdível, mesmo que apenas para reviver, através das vozes familiares, a emoção de acompanhar os Cavaleiros em sua jornada épica.