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    A Juventude
    Críticas AdoroCinema
    5,0
    Obra-prima
    A Juventude

    Veja de perto

    por Francisco Russo

    O cinema por vezes oferece momentos em que é necessário se entregar ao que é exibido na tela, simplesmente sentir a emoção emanada. São momentos de catarse, raríssimos, provocados por uma beleza tão intensa onde nada mais há a ser feito além de aproveitar, e agradecer, o que é visto. A Juventude, novo filme de Paolo Sorrentino, atingiu este apogeu. Trata-se de um filme simplesmente deslumbrante.

    É bem verdade que há uma boa dose de A Grande Beleza neste novo trabalho, especialmente no formato. Assim como acontece em seu longa anterior, premiado com o Oscar e o Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro, Sorrentino dá atenção especial à ambientação mas, desta vez, sem esquecer dos personagens. A associação entre os dois filmes surge logo nas cenas iniciais de ambos: em A Grande Beleza, uma festa agitada; em A Juventude, a imagem de uma cantora em cima de um palco giratório. Em ambos, a música e a vitalidade que ela traz como papel importante na construção daquele universo. Há mais.

    O que logo chama a atenção é a fotografia em tom poético de Luca Bigazzi, buscando retratar os hóspedes e funcionários de um luxuoso hotel como se estivesse à espreita, acompanhando atentamente tudo o que acontece para que se possa conhecer um pouco de cada integrante desta fauna bem particular. Sem nomeá-los ou dando voz aos mesmos, apenas pelos movimentos. Nasce então um ambiente hipnótico, também existente em A Grande Beleza, onde Sorrentino captura a sua atenção e curiosidade. Há ainda a belíssima paisagem, próxima aos Alpes suíços, que ressalta o quão requintado é o local. Há mais.

    Se em A Grande Beleza cabia a Toni Servillo o papel de mestre de cerimônias em uma Roma decadente, em A Juventude o posto principal é dividido entre Michael Caine e Harvey Keitel. Amigos de longa data, estão hospedados no hotel e representam posturas diferentes em relação ao modo de conduzir a emoção. Se Keitel é mais atirado, o típico cineasta apaixonado que se entrega de corpo e alma a cada novo filme, Caine é um músico aposentado que aparenta ter também deixado as emoções de lado. Há ainda uma terceira personagem importante, coadjuvante, interpretada por Rachel Weisz, cujo olhar afetuoso impressiona. É o trio que conduz o longa-metragem, seja através dos anseios e angústias de cada um ou do mero observar do que os rodeia. Todos em ótimas e emocionantes atuações, com momentos individuais de brilho intenso. Há mais.

    Assim como aconteceu em A Grande Beleza, que trazia uma ligação com A Doce Vida, A Juventude também oferece conexões com outro clássico do cinema italiano: Oito e Meio, de Federico Fellini. A associação mais óbvia é a caracterização de Michael Caine, cujo cabelo, óculos e chapéu remetem ao visual empregado por Marcello Mastroianni no filme de 1963. Além disto, ambos trazem cineastas em plena crise artística. O cinema, como paixão e indústria, é um dos vários temas importantes abordados no longa-metragem e rendem duas sequências impactantes: uma extremamente cínica (e bastante realista em relação às séries de TV), que conta com a participação marcante de Jane Fonda, e outra onírica, uma belíssima homenagem, onde surgem várias mulheres marcantes da sétima arte. Há mais.

    Na verdade, o cinismo surge como elemento essencial em diversos momentos do longa-metragem, especialmente ao avaliar pessoas e situações. O roteiro traz uma ironia permanente que rende tiradas deliciosas, envolvendo especialmente o show business - há um clipe musical exageradíssimo que, curiosamente, é estrelado por uma cantora realmente excêntrica, Paloma Faith. Personificações de Maradona e Hitler também surgem em cena, numa sátira ao que representam, assim como o que se imagina de uma Miss Universo – todos hilários! O roteiro ainda reserva declarações de amor de uma delicadeza impressionante, vindas das revelações feitas por Michael Caine. Há mais.

    A Juventude oferece ao espectador um punhado de sequências lindas e líricas, que encantam. A trilha sonora de David Lang é elegante e rende momentos avassaladores, como o desfecho estrelado por Michael Caine. Por mais que em determinado momento ridicularize o cinema, Sorrentino oferece também uma devoção absoluta à sétima arte que, mais uma vez, impressiona. Entretanto, por mais elogios que possam ser citados neste texto, ainda assim não é possível transcrever com exatidão a experiência cinematográfica que é assistir A Juventude. Veja, assim que possível. Daqueles filmes que não apenas emocionam, mas repercutem na memória por um bom tempo.

    Filme visto no 68º Festival de Cannes, em maio de 2015.

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    Comentários

    • Celso C.
      Mais parado que o Paradona que aparece nele. Como velho eu intrinsecamente à película tenho que me expressar da seguinte maneira: Ô filminho chato!
    • Albérico Ben-Hur C. de Andrade
      ótimo filme.
    • Alexandre Rocha Amaral
      Instiga, prende a atenção, mas o filme trai toda o seu interesse. Uma bosta sem tamanho. Filme pretensioso e chato.
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