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    O Dançarino do Deserto
    Críticas AdoroCinema
    2,0
    Fraco
    O Dançarino do Deserto

    Irã “for dummies”

    por Renato Hermsdorff

    Baseado em uma história real, O Dançarino do Deserto, longa de estreia do jovem inglês Richard Raymond, de 37 anos, é o tipo de filme para inglês – ou norte-americano ver: o diretor deita sobre uma outro cultura (diferente da sua, oprimida, no caso a iraniana) um olhar carregado de compaixão, o que resulta em uma produção demasiado açucarada.

    O filme é centrado na figura de Afshin Ghaffarian (Reece Ritchie), um iraniano cuja maior paixão, dançar, é simplesmente proibida em seu país. Na universidade, ele conhece Ardi (Tom Cullen), um tipo revolucionário que o apresenta aos amigos “das artes” e logo logo eles estão montando uma companhia clandestina de dança. Quando Afshin conhece Elaheh (Freida Pinto), ele descobre que seu país nem sempre foi arredio à sua arte, e a moça o estimula a dar um passo além: se apresentar publicamente, um ato que requer coragem.

    Assim, o filme se constrói metaforicamente amparado em apenas dois tons: o preto “de fora”, das ruas, onde as leis parecem não fazer sentido, a repressão é a ordem, enfim, onde tudo é “ruim”; e o branco “de dentro” de casa, da universidade, do galpão abandonado onde os ensaios acontecem, o “tudo de bom”.

    O tom político mais óbvio acompanha as eleições presidenciais do Irã na qual o candidato moderado Hassan Rohani perdeu para o condenável Mahmoud Ahmadinejad, em uma suspeitíssima contagem de votos. Só que, por mais que as ultraconservadoras posições políticas de Ahmadinejad (que, diga-se, chegou ao poder apoiado pelos Estados Unidos) sejam questionáveis, sobretudo aos olhos do ocidente, o embate no filme, mais uma vez, entra na conta da disputa do bem contra o mal. É o caminho fácil de "bater em cachorro morto".

    Ok, com boa vontade, vamos combinar que se trata, acima de tudo, de uma história pessoal de superação. Mesmo assim, O Dançarino do Deserto, falado em inglês, sapateia nos clichês, sublinhado por uma irritante trilha sonora, para lá de melosa. É claro que o diretor deve ter tido a melhor das intenções com o filme e, se você não busca originalidade, talvez até se emocione ao lado da sua avó – e, verdade seja dita, as cenas de dança são realmente bonitas, bem coreografadas e dirigidas.

    Mas uma análise um pouquinho menos superficial já denota que, embora o filme mire na coletividade, acaba por levantar a bandeira do individualismo, termo tão bem enraizado no ocidente, já que o que interessa a Afshin é poder, ele próprio, se expressar livremente. É o Irã “for dummies” (ou, “para leigos”, em uma tradução “leve”). E, como diria a sua avó sentada ao seu lado, “de boas intenções o inferno está cheio”.

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    Comentários

    • samira
      Por isso crítica de filme foi feita para não ser lida, com todo respeito. Mas eu, que sou bailarina e estou bastante perto do desmonte que a secretaria de cultura da cidade de São Paulo tem promovido, e acabei de assistir ao filme, posso dizer que essa história é de extrema relevância para: 1) história da dança; 2) entender o papel dos coletivos artísticos dentro de uma estrutura maior que é a dificuldade de se fazer um trabalho que não se trata de superação pessoal mas de dar voz àqueles que sao julgados como vagabundos pelo nosso péssimo secretário de cultura.
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