No livro “Showrnalismo: A Notícia como Espetáculo”, o jornalista José Arbex Jr. fala sobre um tema que tem muita relação com o filme “O Abutre”, dirigido e escrito por Dan Gilroy: o tratamento dado, pelos meios de comunicação, à notícia como um verdadeiro espetáculo. A espetacularização da notícia é uma tendência vista, principalmente, no telejornalismo e isso consiste do fato de transformar a notícia em um produto de entretenimento. Um exemplo vivo disso é o que assistimos em programas ditos sensacionalistas, como o finado “Aqui Agora” e o atual “Cidade Alerta”.
A personagem principal de “O Abutre”, Lou Bloom (Jake Gyllenhaal), um vigarista de primeira linha, enxerga nesse filão uma oportunidade (honesta, apesar das controvérsias) de crescimento profissional. Desta maneira, ele se joga, diariamente, na noite de Los Angeles, monitorando a frequência radiofônica da polícia da cidade, em busca “das notícias que vão causar IBOPE” – ou seja, crimes ocorridos em bairros de classe média alta, com vítimas improváveis, que vão ajudar ao noticiário local criar uma atmosfera de insegurança na cidade que não dorme.
O roteiro escrito por Dan Gilroy é uma peça meticulosa, que analisa, não somente a ética de trabalho dos chamados nightcrawlings, que são os profissionais freelancers, que trabalham nas ruas em busca dessas notícias espetacularizadas; bem como a relação que eles estabelecem com a mídia televisiva, que, por sua vez, vai pautando os assuntos que são levados ao público de acordo com a sua melhor conveniência.
Entretanto, “O Abutre” tem um diferencial muito importante: a forma como ele conduz a construção de Lou Bloom. Ambicioso, inteligente e perspicaz, ele logo entende como tomar as rédeas desse jogo e vai, aos poucos, se firmando num ramo em que a concorrência é muito ferrenha. A adaptação de Lou ao mundo dos nightcrawlings não é nada traumática, pois ele tem um perfil completamente antiético que se encaixa muito bem na conjuntura na qual o filme se passa.
Se você for um profissional da área de comunicação, “O Abutre” terá muito a lhe ensinar. Especialmente sobre como não agir diante da notícia, na medida em que o filme faz uma reflexão muito interessante acerca da distorção dos valores-notícia e da desvirtuação da própria função do jornalismo, que é comunicar uma informação ao público e refletir sobre as consequências desses dados para a vida daquela comunidade em particular.
Neste sentido, os abutres como Lou Bloom, que vivem mesmo dos restos das carniças; distorcendo, manipulando e recriando a realidade; usando a informação como uma peça de xadrez num jogo que visa o seu próprio benefício e lucro, prestam um verdadeiro desserviço à sociedade. Nunca um ator tão simpático como Jake Gyllenhaal foi tão odiado. Ele está transformado em tela.