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    Eden
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Eden

    Entre euforia e melancolia

    por Bruno Carmelo

    Eden é um filme sobre a juventude dos anos 1990, apaixonada por música eletrônica, vivendo cada dia de maneira intensa e inconsequente. Este tema costuma ser retratado nos cinemas com imagens coloridas, ágeis, extremas, em uma espécie de “estética ecstasy”, como diria a diretora Mia Hansen-Love. Mas o filme da jovem cineasta funciona em um registro oposto. Eden é uma obra melancólica, contemplativa – uma espécie de fim de festa.

    A cineasta mantém o estilo de seu filme anterior, Adeus, Primeiro Amor: uma câmera que segue os personagens o tempo inteiro, nas caminhadas pela rua, nas ações cotidianas. Paul (Félix de Givry) é o personagem principal desta trama. Da adolescência à fase adulta, ele descobre a música garage, forma a dupla Cheers com o colega Stan (Hugo Conzelmann) e tenta viver como DJ. Mas a vida de artista é constituída por muita paixão e pouca recompensa. O prazer das festas, das drogas e das amizades é atenuado pela constante falta de dinheiro e pelos relacionamentos fracassados.

    Hansen-Love usa luzes de aparência natural, atores principais sem experiência profissional e uma montagem fluida, combinando de maneira orgânica e equilibrada os letreiros em tela com dezenas de trechos de música eletrônica. Plasticamente, Eden é um filme encantador, por extrair de lugares fechados e cores neutras uma espécie de poesia do desencantamento. A cineasta demonstra carinho e respeito por todos os personagens, abstendo-se de julgamentos. Nenhuma ação é mais importante que a outra, não existem grandes reviravoltas, apenas uma alternância de sucessos e fracassos.

    Tamanha linearidade pode transmitir uma sensação de apatia, ou de impotência diante das situações apresentadas. Eden foi muito criticado por ser apolítico (já que o retrato da primeira geração pós maio de 1968 poderia ganhar contornos mais analíticos) e pouco sociológico (conhece-se pouco sobre a indústria da música e suas dificuldades). De fato, esse olhar frio funciona muito bem para o tom triste das imagens, mas não contribui a aprofundar as motivações e transformações dos personagens. “Nada acontece”, reclamaram possíveis investidores à diretora, quando ela apresentou o seu roteiro.

    Como consequência desta escolha, Paul revela a sua dependência de drogas sem que o público tenha visto a cocaína se tornar um problema em sua vida; outro personagem se suicida sem que o roteiro tenha dado indícios de sua tendência autodestrutiva. As inevitáveis elipses (a história se desenvolve ao longo de décadas) fazem com que o espectador perca algumas passagens essenciais da vida de Paul, Stan e seus amigos. Assiste-se a este filme como se vira as páginas de um álbum de retratos: pulando algumas partes, destacando outras, sem compreender totalmente a ligação entre as imagens. Talvez por isso alguns diálogos soem artificiais: a descrição que os personagens fazem de determinadas composições parece saída da boca de críticos, e não de jovens que acabam de descobrir um novo gênero musical.

    Mesmo assim, Eden representa um projeto ousado, por fugir tanto à estrutura clássica dos filmes comerciais (conflitos progressivos, busca de empatia) quanto ao tipo de imagem ostensiva dos filmes de arte “de grife”, que costumam ocupar grandes festivais. O steadycam de Hansen-Love é simples, preciso, revelando uma produção impecável e muito coesa do início ao fim. Apesar das grandes proporções (com dezenas de festas, personagens, cenários, cidades), o filme mantém uma louvável humildade, um registro diminuto que condiz com a abordagem íntima da juventude. Termina-se a sessão conhecendo pouco sobre os percalços dos artistas ou sobre a evolução do cenário musical, mas experimenta-se uma espécie de sonho agridoce e intoxicante, “entre a euforia e a melancolia”, como diria um personagem a respeito do garage.

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