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    Riocorrente
    Críticas AdoroCinema
    4,0
    Muito bom
    Riocorrente

    Mundo inquieto

    por Lucas Salgado

    Dez anos após surpreender o mundo do cinema com o intenso documentário O Prisioneiro da Grade de Ferro, em que registrava a rotina de detentos do Carandiru um ano antes do fechamento do maior presídio da América Latina, o diretor Paulo Sacramento faz sua estreia no mundo da ficção. E mais uma vez ele chega fazendo barulho.

    Riocorrente é um filme sobre o frenético mundo do século XXI e suas metrópoles. Pode funcionar mais efetivamente para os moradores de São Paulo, mas qualquer habitante de uma grande cidade vai se identificar com certas inquietudes e incertezas da vida urbana. Neste sentido, o longa é tão atual quando o recente O Som ao Redor, de Kleber Mendonça Filho. Se a produção pernambucana brincava com elementos do cinema de gênero, em especial o suspense/terror, o novo filme utiliza-se de muitos efeitos especiais para criar alegorias e paralelos com a vida real.

    O filme é intrigante desde seu primeiro instante, ao retratar um menino (Vinicius dos Anjos) que tem o hábito de riscar carros na rua. Na sequência, vemos o mesmo garoto sendo apanhado por um cara mais velho (Lee Taylor), em uma moto. Trata-se de Carlos, uma espécie de pai adotivo, embora em momento algum assuma essa figura, uma vez que o sujeito demonstra dificuldades até mesmo de cuidar de si próprio, quanto mais de uma criança.

    O "pai" é uma pessoa que vive meio que no submundo. Ele deixou uma vida de crime, mas sempre que lhe aparece uma oportunidade de algum delito não perde tempo na busca por mais um dinheirinho. Ele vive uma relação intensa com Renata (Simone Iliescu), uma mulher da classe alta paulistana que também está envolvida com o conceituado jornalista e professor Marcelo (Roberto Audio).

    O triângulo amoroso é o foco da produção e os personagens são construídos de forma inteligente, que cria contrapontos, mas não antagonistas. O jornalista vive em um apartamento seguro e anda sempre em seu carro. Já o ex-criminoso vive em uma casa simples, cuja porta dá para a rua, e anda sempre de moto, ou seja, está em contato direto com a cidade. Ambos são afetados pelo dia a dia frenético da metrópole e pela inquietude amorosa da parceira, que se entrega aos dois, mas parece numa jornada de auto-descoberta.

    A vida estressante dos dias de hoje é o objeto de estudo de Riocorrente, que utiliza-se de uma série de figuras de linguagem que deixam tudo muito interessante. Além de contar com efeitos visuais que mapeiam os sentimentos dos protagonistas, cria uma série de alegorias visuais. Neste sentido, os animais possuem função importante na trama. Leões, cachorros e ratos surgem em metáforas sobre o mundo atual.

    Além dos ótimos efeitos especiais e de um roteiro enxuto e inteligente de Sacramento, o longa conta com um incrível trabalho de som. Thiago Bittencourt (som diretor), Ricardo Reis (edição de som), Paulo Beto (trilha) e Armando Torres Jr (mixagem) realizam trabalhos primorosos. O som e a música são fundamentais para inserir o espectador no universo frenético e inquieto visto em cena.

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