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    Vendo ou Alugo
    Críticas AdoroCinema
    4,0
    Muito bom
    Vendo ou Alugo

    Bem-vindo ao Rio

    por Francisco Russo

    O Rio de Janeiro é uma espécie de espelho do Brasil para o mundo, com suas virtudes e mazelas. Se por um lado há belezas naturais magníficas, que encantam moradores e visitantes, por outro há pobreza e violência a olhos vistos, muitas vezes convivendo lado a lado com pontos turísticos bastante badalados. A própria geografia carioca, repleta de morros muitas vezes (super)povoados por favelas, fez com que a cidade crescesse de forma que sua sociedade fosse mesclada, permitindo que ricos e pobres dividissem o mesmo espaço. Com a inevitável decadência sofrida pelo Rio após perder o posto de capital do país, muitas foram as histórias de famílias da “aristocracia carioca” que, pouco a pouco, perderam prestígio e dinheiro. É justamente esta realidade o grande foco de Vendo ou Alugo. Mais até do que fazer rir, o que o filme faz com competência, o grande mérito da diretora Betse de Paula foi conseguir, como poucos, capturar esta essência do que é a realidade carioca nos dias atuais.

    A história gira em torno de Maria Alice (Marieta Severo, radiante), que vive em um casarão mal conservado em pleno bairro do Leme, juntamente com a mãe (Nathália Timberg), a filha (Silvia Buarque) e a neta (Beatriz Morgana). O problema: o que antes era um local requintado agora é a porta de entrada para uma favela, o que fez com que tudo à sua volta entrasse em decadência – a começar pela própria família repleta de mulheres, que está agora na pindaíba. Entretanto, não pense que elas são dondocas que vivem de pose. Bastante ativa, Maria Alice está sempre em busca de se reerguer e para tanto não pensa duas vezes ao tomar atitudes, digamos, discutíveis. Na verdade ela nada mais é do que um retrato fiel da desordem urbana carioca, onde as regras impostas pela sociedade e o jeitinho malandro convivem harmoniosamente.

    Diante desta realidade para muitos insólita se desenvolve uma trama anárquica e inusitada conduzida com maestria por um elenco pra lá de afinado. A começar pela própria Marieta Severo, que surpreende em uma personagem mais sensual e completamente cara de pau, passando ainda por Marcos Palmeira, Nathália Timberg, Pedro Monteiro, André Mattos, Carmem Verônica e Maria Assunção. Todos possuem personagens bastante criativos e críveis, mesmo que em alguns casos recorram a estereótipos facilmente reconhecíveis. É na união destes papéis que vive a riqueza de Vendo ou Alugo, por apresentar diferentes facetas da sociedade carioca de forma coesa e divertida.

    Outro ponto alto do filme é a direção de Betse de Paula, que foge do estilo televisivo presente em quase todas as comédias nacionais lançadas nos últimos anos. Mesclando diversas câmeras, a diretora ainda explora com competência os planos-sequência, onde é possível mais uma vez notar a qualidade do elenco e também dar uma olhada com mais apuro para o cenário do casarão como um todo, repleto de referências cinematográficas. Acaba sendo uma diversão extra aos espectadores mais atentos.

    Com um roteiro inspirado que rompe fronteiras entre asfalto e favela, Vendo ou Alugo é um filme bastante divertido graças à uma coleção impagável de personagens muito bem caracterizados e o olhar cinematográfico imposto por Betse de Paula. Destaque também para os diálogos, inspiradíssimos, que por vezes trazem ainda observações clínicas e cínicas sobre a realidade carioca. Muito bom.

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    Comentários

    • Angélica Ripari
      Péssimo filme. Da vergonha desse roteiro. Cheio de estereótipos. Zero construção de personagem. História presa na visão da Casa Grande, sem querer olhar para a realidade além da nobreza em decadência, propondo uma pífia visão da urbanidade do Rio, marginalizado as periferias de forma banal e fútil. Fazem uma crítica leviana e ignorante das pacificações, chegam indiretamente a legitimar políticas de exclusão e chacinas em nome da bela Vista e da cordialidade da nobreza. Tanto filme bom brasileiro, me estranhou gastarem tantas estrelas com um filme desses.
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