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    Juan e a Bailarina
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Juan e a Bailarina

    Efeitos do tempo

    por Lucas Salgado

    Juan e a Bailarina é um projeto inusitado. Trata-se de um filme com diretor, roteirista e produtor brasileiro que foi rodado na Argentina, em espanhol. Em seu longa de estreia, Raphael Aguinaga optou por filmar em terras argentinas por razões financeiras e de logística, mas também por considerar que o cinema daquele país é mais aberto a produções como esta, o que é verdade.

    O longa é extremamente delicado, fruto da relação de Aguinaga com a poesia, investindo na história de um grupo de moradores de um asilo que têm sua rotina modificada com a notícia, vinda do mundo de fora, de que a igreja católica havia feito um clone de Jesus Cristo.

    Apesar da referência religiosa, o filme não se propõe a discutir profundamente a fé ou a doutrina da igreja. Seu maior interesse é na reação das pessoas, em especial daqueles velhinhos que habitam o local. O Juan do título é um dos moradores do asilo. Ele, no entanto, não aproveita o vasto jardim ou as salas do clássico casarão, ficando sempre confinado em seu quarto.

    Juan usa o cheiro e a música para se lembrar de um passado de glória, em que era um médico respeitado e vivia um grande amor. Agora, espera pelo fim da vida. Até que chega no local uma bela senhora senhora, que segundo o amigo de Juan parece um bombom, uma bailarina.

    Ao contrário do que o título possa indicar, não se trata de uma história convencional de amor entre os dois personagens. Trata-se, na verdade, de uma relação de cumplicidade e amizade.

    Mais do que despertar em Juan uma grande paixão, a bailarina faz crescer nele a vontade de continuar vivo e ativo, ao ponto de levá-lo a tentar ajudar Jesus, cuja namorado sofre com o vírus da Aids. 

    Tais elementos da trama como Cristo, clonagem e o HIV mostram um espírito humorístico na produção. No entanto, não se trata de uma comédia de situações, mas sim de um delicado drama com senso de humor.

    Arturo Goetz, na pele de Juan, é o grande destaque do elenco, que conta ainda com boas participações de Marilu MariniLidia CatalanoLuis Margarini. O único ator, e personagem, que destoa um pouco em termos de qualidade é Pablo Lapadula. Ele interpreta "A Bruxa", que é a pessoa responsável por cuidar do asilo durante as férias da profissional principal. Ele maltrata os senhores como uma espécie de Louise Fletcher em Um Estranho no Ninho, mas sem o mesmo talento ou profundidade.  

    Com uma bela trilha sonora, que nos remete a um passado que não vivemos, mas ainda sim idealizamos, como Juan, La Sublevación (no original) é uma produção extremamente sensível. O ritmo lento pode incomodar um pouco, mas é difícil não se envolver na vida daqueles velhinhos.

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