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    Elena
    Críticas AdoroCinema
    4,5
    Ótimo
    Elena

    Uma viagem pessoal

    por Francisco Russo

    Já há alguns anos parte dos cineastas brasileiros resolveu enveredar pelo caminho duvidoso dos documentários pessoais, onde apresentam fatos ligados à sua própria vida ou de sua família. Por vezes os retratados até contam com elementos atraentes ao grande público, casos de Diário de uma Busca e Marighella, mas em outros nada mais é do que puro egocentrismo sendo exercido com uma câmera na mão. A atriz Petra Costa decidiu se arriscar neste meio ao rodar um documentário sobre a irmã, Elena, que dá nome ao seu primeiro longa-metragem. Entretanto, o que se vê na tela é mais do que um mero retrato de um parente, mas uma busca devastadora por alguém que pouco se conhece de fato.

    Antes de tudo, é preciso ressaltar que a diretora teve coragem. Nem tanto por fazer o filme, mas por remexer em momentos tão dolorosos que, independente de quem seja, machucam quando voltam à superfície. Isto sem falar do risco em expor este drama pessoal no cinema, permitindo que todos adentrem sua história e possam opinar sobre ela a seu bel prazer. Mas, deixando todas estas questões envolvendo o lado pessoal de lado, Elena é um grande filme principalmente pelas opções estéticas de Petra Costa. O tom poético nas imagens e na trilha sonora conferem ao filme uma beleza impressionante, impulsionada pela sinceridade explícita demonstrada pela diretora na história retratada. Sim, pois mais do que simplesmente contar a história da irmã, Elena cria um certo suspense sobre o que realmente aconteceu. Sabe-se que ela não está mais ali e, por mais que como isto tenha acontecido possa ser imaginado, quando a verdade vem à tona é de uma avalanche emocional contagiante.

    Outro ponto bastante interessante do longa-metragem é o uso das imagens de arquivo. Importantíssimas para a história apresentada, elas surgem nos mais diversos formatos e sempre com uma narração em off, da própria Petra Costa, apresentando situações de momento ou sensações que ela e sua família tinham na época. Intervenções pontuais de sua mãe, que aparece tanto nas imagens antigas quanto nas atuais, ajudam a posicionar o espectador em relação ao antes e o depois do ocorrido. É principalmente através da narração que a diretora encontrou o ritmo do filme, um tanto quanto pausado mas essencial para uma melhor compreensão emocional dos eventos apresentados.

    Elena é um filme tocante que ultrapassa, e muito, a média geral dos documentários pessoais. Trata-se de uma viagem absolutamente pessoal de Petra Costa em busca de uma irmã que pouco conheceu, mas também um filme de grande sensibilidade no que se refere à transposição para o público dos eventos e o impacto emocional decorrente deles. Um filme para ver, chorar e refletir, sem esquecer. Só assim para se ter a plena compreensão do que aconteceu e seguir em frente de alma e consciência limpa. Belíssimo, não apenas o filme mas a postura assumida pela diretora ao encarar de frente o mistério que rodeava sua irmã, Elena.

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