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    Por uma Mulher
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    Por uma Mulher

    Desapega!

    por Francisco Russo

    A diretora francesa Diane Kurys tem uma verdadeira adoração pela mãe, tanto que já aproveitou fatos de sua vida em três filmes: Coup de Foudre, La Baule-les-Pins e este Por uma Mulher. No primeiro filme, a abordagem era o período em que ela vivia na França ocupada pelos nazistas, no segundo o divórcio dos pais e, no mais recente, o motivo que resultou na separação. Por mais que todas as histórias contenham elementos ficcionais, no fim das contas trata-se de uma espécie de biografia em partes sobre a homenageada. O que explica bastante os caminhos deste filme.

    Em Por uma Mulher, Diane assume de forma (quase) escancarada a autobiografia – o quase é pelo simples fato de que seu alter-ego em cena não tem seu nome. Nos anos 1980 – a data serve apenas para situar o próprio momento de vida da diretora, sem ter importância alguma para a história -, uma mulher em torno dos 30 anos – idade de Diane na época – encontra umas fotos antigas ao arrumar algumas caixas. Tais imagens despertam perguntas sobre quem seria aquele homem belo e elegante, vestindo farda, em posição de destaque no álbum da família. Tal investigação não chega propriamente a acontecer, já que o filme logo salta no tempo rumo a 1945, quando Lena e o marido – pais de Diane – viviam na cidade francesa de Lyon. Ambos foragidos dos nazistas, casados para escapar da morte e vivendo juntos para cuidar da filha pequena. Amor? Dele, não dela.

    A partir desta composição do casal, fica previsível imaginar o que está para acontecer. Entretanto, não é o inevitável triângulo amoroso que prende o espectador ao filme, mas o contexto político daquela realidade. Jean – o pai de Diane – é comunista fervoroso, daqueles que frequentam as reuniões do partido rotineiramente. Ao mesmo tempo, gosta (bastante) quando sente o gostinho do capitalismo ao ver sua alfaiataria deslanchar. É este contraste, ressaltado também no companheiro de partido que vai às reuniões para pegar mulher, que dá um tempero especial ao filme, pelas diferenças entre o ideológico e o prático.

    Porém, não é esta a história que Diane quer contar – ela até aborda, mas não é o assunto principal. E é ao voltar à batida trama da esposa entediada que sente tesão ao pensar na adrenalina de ter um caso, aliado ao espírito aventureiro do candidato a amante, que o filme cai no lugar comum. Até prende a atenção, mas sem brilho algum. Ainda mais devido às atuações apáticas de Mélanie Thierry e Nicolas Duvauchelle – o terceiro vértice.

    No fim das contas, Por uma Mulher é um filme bastante prejudicado pela intenção da diretora em contar a SUA história, ao invés de apresentar a melhor história. Todo o trecho do “presente”, situado nos anos 1980, poderia ser eliminado sem grande prejuízo à trama como um todo, ou ao menos bastante diminuído. Benoît Magimel até se esforça para cativar o espectador ao compor o pai apaixonado, pela esposa e pelos ideais comunistas, mas não recebe muito apoio dos companheiros de elenco e da própria história. Bastante prejudicado pelo egocentrismo de sua diretora, trata-se de um filme apenas regular.

    Filme visto no Festival do Rio, em setembro de 2014.

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