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    Pessoas-pássaro
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Pessoas-pássaro

    Fora do comum

    por Lucas Salgado

    Assim que deixei a sessão de Pessoas-pássaro, me perguntaram o que tinha achado da produção. Na hora, respondi: "não sei". Agora, um dia depois, a sensação é um pouco parecida. O filme conta com problemas sérios, mas também com alguns momentos marcantes. Só uma coisa é certa: você não vai se sentir indiferente.

    Em um universo em que o "fora de comum" é cada vez mais raro, o longa se destaca por ser um pouco comercial e um pouco experimental. Neste sentido, merece ser conferido.

    O filme retrata a rotina de pessoas que vivem no universo aeroviário. Logo nas primeiras cenas, temos a câmera acompanhando vários passageiros do metrô que vai para o aeroporto Charles De Gaulle, em Paris. Temos funcionários do aeroporto, dos hotéis da região, turistas, passageiros... É bem interessante como pegamos um pouquinho da vida de cada uma daquelas pessoas. A partir daí, a trama é centrada em dois personagens.

    Josh Charles, conhecido pelo papel de Will Gardner em The Good Wife, interpreta Gary Newman, um importante executivo norte-americano que está na França para uma importante viagem de negócios. Na sequência, ele tem uma viagem marcada para Dubai, mas subitamente decide ficar em Paris. Ele está hospedado em um hotel ao lado do aeroporto, onde trabalha como camareira Audrey (Anaïs Demoustier). Trata-se de uma jovem francesa, que vive uma vida sem emoções e solitária.

    A forma como o filme aborda o estado de espírito de cada um dos personagens é incrível, em especial no caso de Audrey. A escolha do título é muito interessante, não só pelo contexto literal, mas por tudo que envolve o dia a dia de cada uma das pessoas retratadas.

    A direção e o roteiro de Pascale Ferran possuem momentos inspirados, em especial na opção de não esconder marcas importantes que fazem parte deste universo estéreo de voos e hospedagens. Air France, Coca, Hilton... Tudo está presente sem parecer uma grande propaganda das marcas. Por outro lado, a direção parece um pouco confusa ao duvidar da inteligência de seu espectador. O filme é dividido em capítulos, um para cada um dos personagens principais. Através da montagem, era de se esperar que o público acompanhasse tranquilamente a condução narrativa sem precisar de uma tela preta vir avisar que abordará outro foco. Mais grave é a inserção, por alguns segundos, no segmento de Gary, de uma equivocada e autoexplicativa narração em off de Mathieu Amalric apresentando as decisões do personagem, sendo que ele mesmo as daria na sequência.

    Não é uma obra ordinária, mas também deveria confiar mais em seu espectador.

    Filme assistido durante a cobertura do Festival do Rio, em setembro de 2014.

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