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    Capitães da Areia
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Capitães da Areia

    Retrato Cultural da Bahia

    por Francisco Russo

    Capitães da Areia carrega consigo o DNA da Bahia, através da sensualidade latente mesclada com uma certa dose de provocação insinuante e malandragem. No filme estes ingredientes ganham ainda o forte tempero da sonoridade do sotaque baiano, inconfundível. Tudo para mostrar, em tela grande, a Salvador de Pedro Bala, Professor, Sem Pernas e companheiros. Jovens unidos pela necessidade, todos moradores de rua, que praticam pequenos golpes sem deixar de lado a ética da camaradagem. Todos delinquentes e, ainda assim, cativantes.

    É bem verdade que de início o filme assusta, pela velocidade acelerada nas falas e situações apresentadas. O uso constante de gírias locais não ajuda o bom entendimento de imediato, mas aos poucos o espectador se acostuma com o dialeto. É a chave para que possa, enfim, conhecer um pouco mais de cada um dos principais personagens, em especial o carismático Boa Vida (Jordan Mateus), o líder Pedro Bala (Jean Luís Amorim) e Professor (Robério Lima). Todos muito bem caracterizados, não apenas na representação da personalidade de cada um mas, especialmente, nos olhares. Seja carente ou gaiato, apaixonado ou raivoso, é através do olhar que muito sobre os personagens é revelado. Um belo trabalho não apenas dos atores mas também da preparação de elenco, visto que todos foram selecionados em comunidades carentes de Salvador.

    Quem também merece destaque é Ana Graciela. Sua Dora surge na história de forma apagada, uma mera menina em meio a tantos garotos com os hormônios em ebulição e acreditando já serem donos do próprio nariz. Aos poucos ela cresce em cena, trazendo doçura a uma trama que, por mais que houvesse a amizade como atenuante, é dura devido à fome e às necessidades existentes. É hora da descoberta do convívio com o sexo oposto, do encantamento, da paixão. O primeiro beijo e as cenas em que Dora e Pedro, como ela o chama, estão juntos são de uma delicadeza cativante. Palmas para a diretora Cecília Amado, pela sensibilidade ao transmitir as várias fases desta história de amor.

    Capitães da Areia é um filme que retrata de forma fiel o espírito da Bahia ao trazer uma história de luta fora da legalidade, sem que isto signifique que os responsáveis ajam sem princípios. É exatamente a existência deles e o reconhecimento do sofrimento e das más condições presentes que faz com que os personagens sejam tão cativantes, além, é claro, da personalidade de cada um. Com um elenco afiado, uma caracterização caprichada e uma gostosa trilha sonora assinada por Carlinhos Brown, trata-se de uma bela apresentação ao universo de Jorge Amado.

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