O filme "O palhaço" de Selton Mello é um brinde ao cinema filosofia , que volta à tona por meio de uma obra aparentemente simples , porém, altamente poética , sensível e essencial à raça humana.
Mais que contar histórias, o cinema nos faz pensar afetivamente sobre as questões mais importantes da Humanidade , como o amor , a liberdade , a autoexpressão e a justiça social. O ponto X de O palhaço é a vocação. Mais do que isso. É a natureza das coisas e das pessoas. Somos o que somos e tentar fugir do nosso essencial é o mesmo que negar a vida ; é negar , como diria Caetano Veloso, “a dor e a delícia de ser o que é”.
Por meio de uma trama simples , O palhaço nos conduz à estrada da nossa vida , das nossas escolhas , da nossa natureza que se impõe .
Como um estribilho , as frases “O rato come queijo/ O gato bebe leite/ E eu sou um palhaço”, todo o determinismo e complexidade da nossa existência revela-se com simplicidade. Estamos condenados a sermos nós mesmos e não há nenhum mal nisso.
Em alguns momentos , o filme me fez lembrar de Fellini e do seu encantamento pelo circo , como possibilidade única de libertação em um mundo marcado pelo determinismo das relações sociais e pessoais. Como o mestre do cinema italiano, Selton Mello joga luz sobre o mistério da vida ; sobre sua beleza triste e cansada ; sobre a possibilidade de sermos únicos num mundo de mesmices e consumismo.