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    Ginger & Rosa
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Ginger & Rosa

    Explosão adolescente

    por Roberto Cunha

    A galera que curte um filme com uma pegada mais existencialista pode ter um programão pela frente com este pequeno e simpático drama, passado em uma época marcada pelo confronto entre as grandes potências. Escrito e pilotado por Sally Potter, cineasta inglesa com várias indicações, prêmios no circuito europeu de festivais e mais conhecida pelo enigmático Orlando - A Mulher Imortal (1992), Ginger & Rosa tem como pano de fundo o temor de uma bomba atômica, mas é a explosão na cabeça de uma adolescente que aflora na sala escura.

    Na Londres do início dos anos 60, duas amigas tocam suas vidinhas em meio aos conflitos internos (família) e os externos, provocados pelos resultados de Nagasaki e Hiroshima. Ginger (Elle Fanning) quer ser poeta, mas a ameaça de uma guerra, propagada no rádio e nas ruas, mexe com ela e a mantém em constante estado de aflição. Rosa (Alice Englert) é simplesmente uma rebelde, com ou sem causa. Como siamesas, são capazes de fazer jogos com as mãos, rir de montão, dar as primeiras tragadas num cigarro, trocar um sarro com os meninos, questionar as mães e ser livres. Separadas, o modo de viver o hoje e pensar no futuro é que fará toda a diferença, porque esse é o pensamento libertário do pai de Ginger (Alessandro Nivola). E quando ele passa a exercer forte influência sobre as duas, surge também uma ruptura nas relações. Seria a maturidade batendo a porta?

    Citando o teórico Friedrich Engels e a escritora Simone de Beauvoir, até para situar o universo "mental e com ares apocalípticos" em que a protagonista se encontra, o roteiro mantém-se hermético. Foca no drama dela e consegue prender você, mesmo havendo uma certa previsibilidade. O casamento em crise, a tristeza da mãe, um pai que incentiva a autonomia, tudo vai consumindo a jovem, que só quer "crescer e fazer coisas", mas ainda não sabe qual é o preço a pagar. Entre as curiosidades retrô total, uma saudoso toca-discos Garrard e uma linda JukeBox, da Wurlitzer, tocando (adivinhe!) "Tutti Frutti", clássico de Little Richard no longínquo anos 50. Falando em música, tem pontinha sonora de Franz Schubert e ainda "Take Five", de Dave Brubeck Quartet, entre outras do mesmo período.

    Ilustrado com belas imagens, enquadramentos interessantes e uma fotografia que reforça ou remete ao ruivo dos cabelos dela, o filme é seco e com a baixa "rotação" chega a perder ritmo, mas consegue ser tocante. Parte dessa força está na atuação de Fanning, que como a irmã mais velha (Dakota Fanning), se envolve com rara fragilidade nas cenas que assim exigem. Diante de tal potência, Englert (do recente Dezesseis Luas) cumpre apenas seu papel em um time que conta ainda o auxílio mais que luxuoso de Christina Hendricks, Timothy Spall, Annette Bening e Oliver Platt. Assim, Ginger & Rosa pode não ser aquela explosão de sucesso, de arrastar multidões, mas está longe de ser uma bomba.

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