Minha conta
    Tá Chovendo Hamburguer 2
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    Tá Chovendo Hamburguer 2

    Ame a natureza (e a família e os amigos também)

    por Bruno Carmelo

    Tá Chovendo Hambúrguer 2 começa de maneira didática, com o personagem principal, Flint, narrando exatamente o que aconteceu no primeiro filme, com a água transformada em comida, e introduzindo o vilão da nova trama – no caso, um guru da tecnologia, mistura entre Gandhi e Steve Jobs. Esta introdução dita o tom da aventura inteira, que será ágil, colorida, voluntariamente histérica e pouco preocupada com a coerência.

    Assim, com dezena de trocadilhos e uma jornada simples (a busca pelo Graal não apresenta grande dificuldade), a trama parece adequada principalmente às crianças muito pequenas, que devem se distrair com as imagens multicoloridas, com o ritmo de pisca-pisca e com a música pop constante. Os traços da animação também lembram mais os desenhos contemporâneos da televisão (os personagens são moles, arredondados, com braços longos que se agitam sem parar) do que os contornos realistas da Pixar e da Dreamworks. O universo é claramente fantástico, único – o que poderia ser uma vantagem da animação.

    O problema vem mesmo do roteiro, que além de incrivelmente previsível, ainda recorre ao velho moralismo que consiste em martelar na cabeça dos pequenos que devem idolatrar a família, os amigos e a natureza, e desprezar os ídolos e os bens de consumo. Neste sentido, Tá Chovendo Hambúrguer 2 lembra outra aventura ecológica, O Lorax: Em Busca da Trúfula Perdida, que também trazia seres pouco naturais pregando a defesa da natureza. A mensagem é tão nobre quanto ingênua: árvores e animais nunca podem ser malvados – mesmo os tacos monstruosos se transformam em cães dóceis – e todos os seres vivos são amigos dos humanos.

    Para transmitir essa ideia, a história não usa a dezena de personagens que tem à disposição, nem o ambiente tresloucado desenvolvido pela direção de arte (que deveria estar sob efeito de LSD, principalmente na cena dos hologramas). Os companheiros de Flint não têm função na história, nem se distinguem entre si, operando apenas como grupo de amigos. O mesmo vale para o pai, representando a família. Os personagens, sejam eles humanos ou animais, valem mais por suas categorias do que por suas personalidades.

    Mesmo os “foodimals” (animais de comida) existem unicamente pelo capital fofo e inusitado – prova disso é a estranha “natureza”, composta tanto de frutas e legumes quanto de pratos prontos (hambúrgueres, tacos) e mesmo de elementos altamente industrializados como marshmallows. Todos eles têm olhinhos e caras sorridentes, mostrando que o roteiro não se preocupou muito com novas formas de expressividade. Estamos muito, muito longe do humanismo e da emoção comovente do robô Wall-E, por exemplo, que dizia tanto com o simples olhar...

    No final, entre gritos, corridas e piadas escatológicas, Tá Chovendo Hambúrguer 2 pode não repetir o sucesso do primeiro filme (por repetir uma trama semelhante, trazendo poucas novidades à estrutura), mas ainda consegue se destacar por sua história surrealista, de estética e ritmo televisivos. Quanto à trama inconsistente, talvez não valha a pena exigir complexidade de uma produção que pretende funcionar como um brinquedo infantil, do tipo que pisca quando é apertado ou chacoalhado. Vendo por esse aspecto, o filme pisca muito bem.

    Quer ver mais críticas?

    Comentários

    Back to Top