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    Moonrise Kingdom
    Críticas AdoroCinema
    4,0
    Muito bom
    Moonrise Kingdom

    O primeiro amor

    por Francisco Russo

    É raro, nos dias atuais, um diretor ter um perfil claramente definido em seus filmes, ao ponto do espectador ser capaz de identificar de imediato sua assinatura. Woody Allen é um deles, mas vem de uma geração que começou a rodar seus primeiros longas ainda na década de 60. Entre os contemporâneos, Wes Anderson é um dos poucos casos existentes. Adepto de um estilo de comédia irônico, que aposta no desencontro de sentimentos em famílias desconexas, Anderson sempre impõe seu estilo em qualquer trabalho em que se envolva, mesmo quando é a adaptação de um simples livro infantil, como é o caso de O Fantástico Sr. Raposo. Com Moonrise Kingdom não é diferente. Trata-se, mais uma vez, de um típico filme do diretor.

    A história desta vez se passa em 1965, em uma pequena ilha isolada. O local ideal para uma comunidade arraigada em seus costumes, mesmo que isto signifique esconder alguns segredos. A bem da verdade, nenhum dos personagens principais está satisfeito com a vida que leva, mas esconde os problemas embaixo do tapete e segue em frente. Entre eles estão os jovens Sam e Suzy, interpretados pelos estreantes Jared Gilman e Kara Hayward. Ambos têm 12 anos e sentem-se deslocados em relação aos amigos e familiares. "Eles não entendem minha personalidade", reclama Sam. Tem razão. E, justamente por causa disto, se aproxima de Suzy. O primeiro amor de ambos na verdade nasce da identificação que sentem um pelo outro. Fugir de tudo, juntos, apenas é a solução mais desesperada. O que não esperavam era que um pelotão – literalmente – viria em seu encalço.

    Com Moonrise Kingdom, Wes Anderson aborda dois pontos em especial. Um é seu tema habitual, a família desconexa, formada pelo trio Bill Murray/Frances McDormand/Bruce Willis. Outro é o nascimento do primeiro amor, narrado com delicadeza e de forma bem pausada. Não há a paixão explosiva, típica dos grandes romances, mas uma aproximação que respeita a idade dos jovens envolvidos. Neste contexto, é importante destacar a bela sacada do diretor ao insinuar, para o público, uma inclinação sexual que na verdade não existe. O sexo está apenas nos olhos de quem assiste o filme, não para Sam e Suzy. Uma dualidade que demonstra o pleno domínio de Anderson diante da história que se propõe a contar.

    Outro ponto que chama bastante a atenção é a criatividade demonstrada em situações corriqueiras. Seja nas tarefas dos escoteiros comandados por Edward Norton ou em breves falas, Anderson busca sempre o inusitado, mesmo que por vezes pareça irreal até demais. Arriscar faz parte de seu estilo e em Moonrise Kingdom as apostas visam sempre tornar a história o mais lúdica possível, especialmente quando o olhar principal é de uma das crianças. O resultado é um filme bastante divertido, que consegue explorar bem o ambiente bucólico do local em que todos vivem. Além disto, traz como grata surpresa o belo desempenho dos jovens protagonistas. Especialmente Kara Hayward, que consegue transmitir à sua Suzy uma dramaticidade magnética. Vale a pena ficar de olho nela no decorrer de sua carreira, pois a garota promete.

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