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    Therese D.
    Críticas AdoroCinema
    2,0
    Fraco
    Therese D.

    Cheio de vazios

    por Roberto Cunha

    A turma chegada no fértil cinema francês tem um título novo na área. Escrito por François Mauriac, essa é a segunda vez que o romance "Thérèse Desqueyroux" (1927) vai parar nos cinemas, sendo a primeira de 1962. Rebatizado de Therese D., ele chega sob o comando de Claude Miller, cineasta com muitos fãs, diversas indicações e prêmios, principalmente, no circuito europeu de festivais. A trágica curiosidade é que Miller escreveu o roteiro e o rodou no segundo semestre de 2011 (em menos de um mês), mas nem teve a chance de ver sua obra na sala escura, pois acabou falecendo em 4 de abril do ano passado. Ou seja, esse é seu último trabalho e, triste coincidência, estreia por aqui - praticamente - um ano após sua morte.

    Na França dos anos 20, Therese (Audrey Tautou) se revela uma mulher diferente. Culta, pensativa, afirma temer suas próprias ideias e a amizade (quase irmandade) existente entre ela e a jovem Anne (Anaïs Demoustier) chega a insinuar amor. Estranhamente, essa herdeira questionadora, com ares de emancipada, também é capaz de seguir uma tradição familiar: "Vou casar com você pelos pinheiros", diz ela para Bernard (Gilles Lellouche). Ele é o irmão de sua melhor amiga e apenas um boçal que encara com naturalmente um relacionamento "muito comercial e nada afetivo". Obrigada a conviver com os valores daqueles que ela chama de "implacável raça dos simples", Therese vai sofrendo com acontecimentos periféricos que vão minando suas forças, definhando seu corpo e sua sanidade.

    Dito isso, é provável que o leitor mais afoito vá logo pensando estar diante de uma boa história. E ele não está enganado. Mas adaptar livros não é fácil. Ora agrada uns, ora decepciona outros e tudo por conta das licenças necessárias para transformar páginas em um produto audiovisual. Nesta produção, o roteiro padece de ritmo e chega até a parecer meio perdido. Se de cara apresenta a você uma protagonista enigmática, interessante, no momento seguinte o que foi construído vai esmaecendo, deixando uma constante sensação de promessa não cumprida. Em outras palavras, cria-se uma expectativa, mas nada acontece. E não só com a personagem principal. O chato é que mesmo que isso não venha a acontecer com você (tomara!), esse incômodo deve se configurar para muita gente. É o fator "olho no relógio". Quando você quer saber as horas durante uma exibição, tem algo de errado acontecendo.

    Popular por aqui devido ao cultuado O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001), Tautou já provou talento em títulos recentes (A Delicadeza do Amor) ou mais distantes (Bem Me Quer, Mal Me Quer). O mesmo vale para Lellouche, visto no recente Os Infiéis. Assim, adornado por belas paisagens da região de Aquitaine, com lagos, florestas e a tradicional Bordeaux dos cultuados vinhos, resta para a trilha sonora meio capenga o papel de gota d'água nos pontos negativos de Therese D., um filme regular e pouco envolvente por conta dos vazios que ele mesmo criou. O que é uma pena pois nota-se potencial. Como informação adicional, vale lembrar que foi o filme de encerramento do Festival de Cannes 2012. Fim de papo.

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