Nos últimos anos, o cinema tem feito releituras de clássicos infantis, como Branca de Neve, Cinderela, A Bela Adormecida. Embora o livro de Saint-Exupéry não seja um conto de fadas, a obra é um clássico infanto-juvenil, embora também muito apreciado por adultos – no Brasil, sua popularidade foi grande nas décadas de ´60 - ´70.
O diretor escolhido para esta adaptação como filme de animação é americano – dirigiu Kung Fu Panda, mas o filme é francês e teve a mais ampla distribuição no território brasileiro para um filme produzido na França desde Intocáveis. Normal, em se tratando de um filme que vem dirigido para público infantil, o mais assíduo às salas de cinema brasileiras atualmente. A questão é: como apresentar a delicada poesia do livro, escrito na longínqua década de ´40 para o público de hoje, acostumado a filmes de pura ação, e ao formato de história já desenvolvido e consagrado pela Disney.
A saída dos produtores foi boa. A história do Pequeno Príncipe é introduzida dentro de uma história maior, de uma menina a quem o livro é apresentado por um vizinho, que aparentemente foi quem escreveu a história. Liberdade poética plenamente aceita. Assim se evitou uma releitura, mantendo-se inclusive os diálogos e famosas frases-pensamentos tal qual aparecem no livro. Mesmo as icônicas ilustrações do livro foram aproveitadas.
Outra excelente ideia do filme foi empregar 2 técnicas de animação diferentes. Para a história principal, computadorizada, como são feitas as mais modernas animações da Pixar/Disney nos dias atuais. Para ilustrar as passagens do livro, o filme usou a conhecida técnica do stop-motion (fotografia quadro-a-quadro), mas ao invés de utilizar figuras de “massinha”, inovou, criando tudo em papel. Estas são as mais belas cenas do filme, com um visual realmente inovador. A partir do momento que vai descobrindo a fantasia e o fascínio da história do livro o universo da pequena menina também vai ganhando mais cor. Outra boa sacada da animação.
Mas nem tudo são flores (ou rosas) neste Pequeno Príncipe, e o filme escorrega feio quando, ao final, tenta unir as 2 histórias, propondo até uma “o que terá acontecido com o Pequeno Príncipe?”. A proposta de unir as 2 histórias não foi uma má ideia, mas desenvolvida de forma imprópria. É como se a menina adentrasse, muito de repente, num universo paralelo habitado pelo Pequeno Príncipe, agora um adulto. E se perde totalmente o encanto, sutileza e tratamento dos assuntos delicados – como morte e amadurecimento – que vinham sendo tão bem desenvolvidos no filme.
O Pequeno Príncipe vale pelo prazer visual das cenas que ilustram as passagens do livro. Essas cenas tem o frescor das ousadias que vemos serem utilizadas mais nos curta-metragens de animação modernos, e que as grandes produtoras não arriscam nas animações de longa-metragem. A proposta de adaptação também merece elogios, por respeitar o material original e ter encontrado uma forma inteligente de apresentá-lo aos pequenos de hoje, que talvez nunca tenham tido contato com o livro. Mas, como tem sido uma verdadeira maldição dos filmes de grande produção recentes, o roteiro começa bem, desenvolve sua história, para decepcionar ao final. C´est dommage!