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    A Hospedeira
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    A Hospedeira

    O preço a ser pago

    por Francisco Russo

    A Terra está em paz, sem violência, sem fome e com os problemas ambientais resolvidos. Uma situação aparentemente ideal, onde todos convivem em harmonia, respeitando o próximo e, se possível, ajudando-o. Entretanto, para que este mundo existisse a humanidade teve que pagar um preço: a perda de sua autonomia. Afinal de contas, todas estas conquistas apenas vieram quando seres alienígenas conhecidos como Almas chegaram ao planeta. Foram eles que, após se infiltrarem nos seres humanos, passaram a usar seus corpos como bem entendessem.

    O confronto entre aliens pacíficos contra humanos violentos é o aspecto mais interessante por trás de A Hospedeira. Não necessariamente pelo embate em si, mas pelas características ressaltadas de cada lado, especialmente o uso da instabilidade emocional como causa de tantos contratempos provocados pelo homem. Diante disto, vem a inevitável pergunta: a perda do controle do planeta pelos humanos seria um preço alto demais a ser pago em nome de uma sociedade mais justa? Esta é a sombra que permeia parte do filme, especialmente no início, onde a invasão é apresentada através de uma narração em off. Tantas são as benfeitorias promovidas pelos alienígenas que eles chegam a ganhar uma certa simpatia do espectador, por mais que sejam também os responsáveis pela anulação da raça humana. Pensando no planeta como um todo, e deixando de lado os interesses humanos, por que não?

    Infelizmente, esta interessante questão não dura muito tempo em cena e logo perde espaço para romances juvenis e cenas de ação, daqueles capazes de entreter o público sem provocar grande reflexão. A Hospedeira não tem a pretensão de promover debates, ao menos esta jamais foi a intenção da autora Stephenie Meyer. Todo este cenário serve apenas como pano de fundo para que ela repita parte da fórmula usada na saga Crepúsculo: uma jovem como protagonista, doses cavalares de romantismo meloso e a pregação de uma sociedade baseada no respeito. Este último ponto fica mais explícito não em relação aos alienígenas, mas através da comunidade liderada por William Hurt. Pegue os elementos principais – viver em paz, uma certa hierarquia, não prejudicar outras pessoas, respeito entre eles – e veja como ela é parecida com a família Cullen, de Crepúsculo - descontando as características vampirescas, é claro. Muda-se o cenário, não o conteúdo.

    A trama, desta vez, acompanha a saga de Melanie Stryder, uma das humanas que vivem escondido, sempre fugindo das Almas. Vivendo com o irmão caçula e o namorado Jared – com quem tem alguns dos diálogos mais piegas do filme -, ela praticamente se entrega aos alienígenas para permitir que o maninho consiga escapar. À beira da morte, a Alma Peregrina é inserida dentro de seu corpo e a cura. A partir de então tem início um confronto dentro de Melanie, já que a consciência da garota permanece viva, apesar dela não ter mais controle do próprio corpo. O embate entre Peregrina e Melanie acontece mentalmente, revelado ao espectador através de conversas entre as duas. Para que jamais haja dúvidas sobre quem é quem foi usado um truque simples e eficaz: enquanto Peregrina sempre tem um tom de voz sóbrio, Melanie exagera bastante nas emoções e entonações. Com o tempo, Peregrina fica cada vez mais fascinada com as emoções vividas por Melanie e passa a ter um misto de curiosidade e simpatia pela garota. O suficiente para trair sua espécie e ajudá-la.

    Daí em diante entram em cena todos os truques típicos de Stephenie Meyer: triângulos amorosos, perseguição obsessiva, romantismo piegas e algumas lições de moral. Um aspecto interessante é o modo como o diretor Andrew Niccol constrói esta realidade futurista, mas com um pé fincado nos dias atuais. O ambiente das Almas é sempre muito claro, esterilizado, lembrando até mesmo a cidade espiritual do brasileiro Nosso Lar. Por outro lado, os humanos têm características mais rústicas, com roupas de cores ligadas à terra. Por mais que esta diferenciação seja interessante, até mesmo para ressaltar as diferenças de cada lado, nem sempre funciona tão bem. Os carros e helicópteros prateados usados pelas Almas são de um tremendo mau gosto visual. De qualquer forma, fica bastante claro o porquê da autora Stephenie Meyer ter insistido tanto para que Niccol fosse o diretor da adaptação, levando em conta seu passado no comando de ficções científicas do porte de Gattaca - Experiência Genética e O Preço do Amanhã.

    Como um todo, A Hospedeira interessa mais pelo seu contexto do que a história em si. De ritmo lento, especialmente a partir do momento em que Melanie/Peregrina encontram a comunidade liderada pelo tio, o filme acaba se tornando cansativo. Já Saoirse Ronan tem uma atuação meramente burocrática, já que usa os extremos para compor suas personagens. A impossibilidade de promover alguma mescla prejudica seu trabalho, que acaba caindo no estereótipo. O mesmo vale para o restante do elenco, que não consegue trazer algum brilho ao filme.

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