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    Bel Ami - O Sedutor
    Críticas AdoroCinema
    2,0
    Fraco
    Bel Ami - O Sedutor

    O fantoche

    por Bruno Carmelo

    "Bel Ami", o livro, utilizava histórias de amor para criticar a moral religiosa, alfinetar a política, revelar a hipocrisia da alta sociedade. O escritor Guy de Maupassant nunca teve gosto pelo amor romântico, de modo que os casais de suas histórias funcionam geralmente como metáforas para o fracasso da moral vigente. O mais interessante do personagem Georges Duroy, no texto original, era nunca saber se ele manipulava as pessoas ou se era, ao contrário, manipulado pelo mundo ao redor.

    Bel Ami, o filme, parece ter decidido a questão, a começar pelo título brasileiro, que afirma que é o rapaz que seduz, de maneira ativa. A primeira imagem mostra um homem de costas, observando de longe o banquete de um grupo burguês. Supomos que ele seja o protagonista, mas nada confirma esta impressão. Depois vemos pés descalços, uma casa imunda, uma barata caminhando pela mesa paupérrima e o rosto de Robert Pattinson, sofrendo no escuro. Com duas imagens apenas, passamos da extrema riqueza à extrema pobreza, do anonimato à imagem famosa do ator.

    Bel Ami – O Sedutor sofre do mal da maioria das adaptações literárias: acreditar que o mais importante do livro é a sucessão de fatos, as reviravoltas. Não se pensa no teor do texto (o cinismo, a ironia, as ambiguidades, as metáforas), nem na tradução visual do estilo escrito. Para os diretores desta produção, o livro é uma história a ser ilustrada, recheada com atores. O resultado, portanto, é um problema conjunto entre direção, montagem e roteiro: falta contexto, falta ritmo para o desenvolvimento. Sem trabalhar as elipses, o roteiro exibe as ações centrais, mas não mostra como se passa de uma à outra.

    Para se entender a mecânica truculenta deste filme, imagine um fenômeno simples de causa e consequência: se o protagonista vê uma mulher, na imagem seguinte ele está na cama com ela. No próximo dia, a moça está perdidamente apaixonada. Se um personagem tosse, ele tem uma doença mortal. Se Georges Duroy escreve um artigo no jornal, a imagem seguinte mostra seu grande status dentro da empresa. Se nós o vemos discutindo com o patrão, a próxima cena mostra o jovem gritando: "Fui eu que ajudei a definir os rumos deste país!".

    Assim, as ações não têm tempo, nem contexto. O texto original trabalhava a gradação, a ascensão constante e inevitável deste jovem em uma sociedade corrupta. O que impressionava era ver como ele conseguia sempre mais, subindo cada vez mais alto. Até onde ele iria? Pois os diretores trabalham este material como uma simples sucessão de fatos. Ele sai com uma mulher, depois com outra, depois com outra. A história continua, mas não evolui. A câmera, pretensamente maliciosa, multiplica as imagens de Pattinson frente ao trio feminino central, no mesmo plano, mostrando que ele de fato conquista todas. No final destas cenas, a imagem sempre volta ao rosto do ator, sorrindo satisfeito.

    A tentação de debochar da atuação de Robert Pattinson é grande, e muitos jornais dedicaram artigos inteiros a desprezar o talento dramático do moço. O fato é que ele é realmente muito limitado, mas o roteiro e a direção ajudam pouquíssimo na tarefa. Como acreditar em um rapaz que nunca fala, nunca expressa suas ideias, suas opiniões (ele é provavelmente o personagem com menos diálogos no filme)? Pattinson é um fantoche na mão dos diretores, que usam sua fama como se ela bastasse para a construção de Georges Duroy. Ele é o coadjuvante de sua própria história.

    O ator parece ter recebido a mesma direção de atores que o famoso trio feminino, composto por Uma Thurman, Kristin Scott Thomas e Christina Ricci. Todo o elenco ostenta uma dramaticidade teatral e exagerada, como se eles estivessem no palco de um imenso palácio, aumentando cada gesto e cada expressão para serem percebidos por aquele espectador sentado lá na última fileira. Ricci rola os olhos e torce o pescoço, Thurman parece vinda diretamente de uma propaganda de Schweppes. Pattinson, diante de toda e qualquer situação, sorri maliciosamente.

    Bel Ami – O Sedutor não parece uma criação artística nova, inspirada em uma obra literária, apenas uma ilustração, refém das ações do livro. Pattinson-Georges-Bel Ami não tem ironia, não critica a sociedade. Pelo contrário, ele parece desconectado do mundo, como se não fizesse parte dos salões ou da mobília ao redor. O personagem passeia de cama em cama, de mulher em mulher, e o espectador fica pensando até onde esta história vai, o que ela quer dizer – sobre a sociedade, sobre o amor, sobre o cinema. Infelizmente, parece que não é muita coisa.

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