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    Simplesmente Complicado
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Simplesmente Complicado

    Ousadia Controlada

    por Francisco Russo

    A diretora Nancy Meyers tem se caracterizado pelo enfoque sobre o olhar feminino, mesmo quando seu protagonista é um homem (Mel Gibson, em Do que as Mulheres Gostam). Os conflitos entre o lado profissional e o pessoal sempre estão em cena, mesmo que este não seja o foco principal da história. Meyers prega que a felicidade real apenas pode ser atingida quando os dois lados estão em sincronia. É comum ver em seus trabalhos personagens que vivam este desnível, regularizado no decorrer do próprio filme. É o que também acontece em Simplesmente Complicado.

    Aqui Meryl Streep é a dona de uma confeitaria que vive em situação confortável, planejando a ampliação de sua casa. Seus três filhos estão prestes a deixar o lar, gerando o inevitável vazio na matriarca que tanto se dedicou para sua criação. Na formatura de um deles, ela reencontra seu ex (Alec Baldwin). Ele está casado com uma mulher bem mais jovem e, apesar de algumas farpas ocasionais, se dá bem com Streep. Uma noite, quando ambos estão sozinhos no bar do hotel onde estão hospedados, ocorre o inevitável reencontro. A partir de então eles se tornam amantes.

    O surpreendente em Simplesmente Complicado não é propriamente sua trama, mas o modo como o filme trata um tema sempre polêmico, ainda mais na sociedade americana: a traição. É claro que Meyers ameniza o peso do tema, criando várias causas para a infelicidade do personagem de Baldwin: frieza da esposa, vontade dela em ser mãe, as implicâncias do filho dela... Tudo é mero pretexto para evitar sua pré condenação pelo público. Por outro lado, Meryl também precisa de uma "autorização" para seguir em frente, concedida por seu psicólogo. Como se ele tivesse a experiência e o conhecimento necessários para aprovar ou reprovar qualquer ato que viesse a ser tomado.

    É na resposta dada pelo psicólogo um dos pontos cruciais da trama: "vá em frente". Não é um julgamento do ato, mas a recomendação de que se arrisque, que viva e que, é claro, esteja pronta para as consequências que isto pode trazer. É o que a vida exige de todos aqueles que decidem vivê-la. É o que Meryl Streep faz.

    A partir de então, o filme é repleto de momentos curiosos envolvendo o retorno do casal. Desde lembranças do passado até novas descobertas, passando pelas reações dos filhos à presença cada vez mais constante do pai em suas vidas. Uma situação em muito auxiliada pelas atuações despojadas de Streep e Baldwin, que conseguem transmitir ao público uma longa intimidade entre seus personagens. Só que Hollywood - ao menos o cinemão - pode ser ousado, mas dentro de certos limites. É aí que Steve Martin entra na história.

    O personagem de Martin serve para organizar a situação de forma a recolocá-la dentro da moral e dos bons costumes, mas sem torná-la necessariamente careta. A cena em que Streep e Martin fumam um baseado tem esta função. O triângulo amoroso formado marca também o início da queda do filme, já que ele passa a seguir a fórmula convencional das comédias românticas.

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    Simplesmente Complicado é um filme de bons momentos, que diverte especialmente em sua primeira metade, quando busca ousar e até mesmo levantar questionamentos sobre uma situação corriqueira, ainda mais nos dias atuais, como a infidelidade. É um avanço na carreira de Nancy Meyers, por modificar um pouco sua fórmula tradicional, apesar de não ser este seu melhor filme. Ainda assim vale a ida ao cinema, especialmente para ver Alec Baldwin bonachão.

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