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    Brooklyn - Sem Pai Nem Mãe
    Críticas AdoroCinema
    2,0
    Fraco
    Brooklyn - Sem Pai Nem Mãe

    Detetive sem rumo

    por Francisco Russo

    Chamar Edward Norton de diretor bissexto seria uma simplificação e tanto, afinal de contas, seu primeiro e único filme na função foi lançado em 2000, o divertido Tenha Fé. Quase duas décadas depois, ele retorna à cadeira de direção (e também ao posto de roteirista) em um projeto bem mais ambicioso que, uma vez mais, homenageia sua amada Nova York. Só que não funciona tão bem.

    Baseado no livro homônimo escrito por Jonathan Lethem, o grande atrativo do filme é o inusitado de seu personagem principal: Lionel Essrog, um insólito detetive com síndrome de Tourette, o que faz com que compulsivamente toque nas pessoas ou, sem qualquer motivo, fale aleatoriamente algum palavrão. O próprio Norton decidiu encampá-lo e, em muitos momentos, até aparenta se divertir com os cacoetes incontroláveis do personagem. O problema é que trata-se de uma piada repetida à exaustão, divertida nas primeiras vezes e cansativa nas inúmeras repetições, ainda mais ao se constatar que, no fim das contas, tal particularidade não influencia de fato no decorrer da narrativa. Trata-se muito mais de um alívio cômico do que um meio através do qual possa, de alguma forma, auxiliar na investigação empregada - o que é uma baita decepção!

    Soma-se a isso o fato que, com o decorrer do filme, os próprios personagens sequer mais se importam com os cacoetes de Lionel, que, por sua vez, insiste sempre em pedir desculpas. Tal comportamento é perfeitamente compreensível com quem já o conhece há algum tempo, mas pode ser notado até mesmo por quem o encontra pela primeira vez. Um exemplo é o personagem de Alec Baldwin, que nem reage a cada ato inusitado de seu protagonista, o que prejudica consideravelmente a coesão do roteiro.

    Inspirado nos filmes de detetive dos anos 1950, Brooklyn - Sem Pai Nem Mãe até entrega um bom trabalho de época, em especial no figurino, aliado a uma trilha sonora que investe pesado no jazz para dar ritmo à narrativa. O corrido preâmbulo mal apresenta a relação entre Lionel e seus colegas de trabalho com o chefe da equipe Frank Minna (Bruce Willis, burocrático em uma participação bem pequena), logo colocando a equipe no encalço de seus assassinos. Sem qualquer pista, cabe a Lionel perambular pela cidade em busca de alguma inspiração.

    É esta jornada que, impulsionada pela narração em off que traz suas próprias memórias e divagações acerca do caso, faz com que o filme gire em círculos por muito, mas muito tempo. Extremamente verborrágico e sem foco, Brooklyn - Sem Pai Nem Mãe logo torna-se um imenso exercício de paciência, em busca de algum desfecho. Mesmo que aqui e ali surjam algumas questões interessantes, como a ponderação sobre a falta de informação dos repórteres de TV em detrimento da imprensa escrita - com direito a uma fina ironia, refletida nos dias atuais - e algumas nuances que aproximam o personagem de Alec Baldwin ao perfil de Donald Trump, é pouco para manter o interesse por longos 144 minutos.

    Com sérios problemas de ritmo, Brooklyn - Sem Pai Nem Mãe ainda comete a falha de entregar um desfecho apressado, no sentido das respostas tão buscadas surgirem repentinamente. Em seu segundo trabalho na direção, Edward Norton demonstra que ainda precisa aprender bastante para encampar um projeto de maior desenvoltura.

    Filme visto no Festival de Toronto, em setembro de 2019.

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    Comentários

    • Benedicto Ismael C.
      Mostra bem o que faz a cobiça por poder quanto a desumanização do ser humano, é o caso de Mose, Alec Balduin. Os acontecimentos vão mostrando a frieza do raciocínio quando se trata de obter ganhos e poder em contraposição ao idealismo de evolução da espécie humana com nobreza. Lionel não se deixa fisgar pela promessa de receber um montão de dólares para sair do caminho de Mose, ele mostra que tem vontade própria e determinação, coisas estranha para os homens do poder habituados a serem bajulados e obedecidos cegamente.
    • Luiz Gomes
      Sim, exato! Achei um filme leve sem apelo e isso me agradou, mas o Edward deveria ter explorado mais os outros personagens que no decorrer do filme simplesmente desapareceram. A boa música me prendeu ao filme, mas no geral faltou um pouco de ação. Minha nota é 7.5.
    • André Santos
      A critica sobre o conjunto da obra é válida e aceitável, mas apresenta um comentário extremamente infeliz sobre um ingrediente da trama, a Síndrome do personagem principal. O diretor / ator deve ter pesquisado sobre o tema e retratou na trama o que realmente acontece na vida de uma pessoa acometida com a sindrome. NÃO È UMA PIADA. A sindrome está presente full time. os tiques e cacoetes diminuem de frequência sob efeito de medicamentos mas nunca cessa, é incurável e constante. Norton conseguiu provocar no crítico exatamente o que queria, risos no inicio e cansaço e irritação depois. No início as pessoas acham engraçado, alguns mais, outros nem tanto... com o tempo isso fica repetitivo, cansativo, irritante. Estes são os sentimentos despertados em quem tem proximidade com uma pessoa com a síndrome. Algumas percebem e reagem, outras não percebem ou não reagem, não existe uma regra comportamental mas o que foi relatado pelo critico sem conhecimento de causa é real. Parabéns a Edward Norton neste ponto.
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