A classificação por estrelas fala por si só. Nicolas Winding Refn compõe um filme diferenciado e milimetricamente calculado, não há nada inserido gratuitamente aqui. A direção de Refn rapidamente denuncia o carácter reflexivo da obra, através do diálogos pausados. Aqui é necessário pensar, não é um simples filme de assalto ou ação, ainda que tais características façam parte da obra, existem boas sequências de perseguição e suspense aqui, o longa transita sem qualquer problema entre romance, drama e ação. As tomadas aéreas apresentam um visão soturna da cidade, os planos fechados e closes aproximam o público do misterioso protagonista, a jaqueta com um escorpião do Driver é enquadrada muitas vezes, afim de propósito metafórico, um estudo de personagem no final das contas.
O roteiro é funcional, não é o principal aspecto do filme, mas conta com bons diálogos quando necessário, além de uma boa construção e caracterização dos personagens. A fotografia é excelente, ênfase no amarelo-alaranjado, vermelho e azul, cada cor representando uma característica do protagonista, ou acontecimento iminente da trama e a trilha sonora é perfeita, composta por sintetizadores, além de belas músicas, que dizem muito a respeito dos personagens e de suas relações, destaque para: Nightcall, Under Your Spell e A Real Hero. A montagem faz um bom trabalho administrando bem os cortes durante as sequências de ação e a passagem de tempo, fora o trabalho de subexposição de cena, em algumas transições.
Ryan Gosling apresenta um atuação minimalista, fria e inexpressiva (no bom sentido), é um personagem imponente, violento em determinadas situações, misterioso, fechado, mas altruísta e com uma certa vulnerabilidade bem construída no decorrer do filme, Carey Mulligan compõe uma dona de casa solitária e inteligente, que vê muito de si reflectida no protagonista, com um amor pelo filho e pelo marido, a relação do dois é muitíssima bem trabalhada, sem necessariamente precisar de diálogos, somente os olhares de um para o outro é suficiente. Bryan Cranston aqui, está mais uma vez muito bem como um homem sagaz, mas com trama do passado que o tornou retraído, porém, com um grande afeto por Driver. Ron Perlman, um homem violento, catalisador de toda a trama e Albert Brooks o antagonista principal, com uma antiga relação com Cranston, agora envolvido com a máfia.
Drive é uma obra-prima, um filme subversivo e muitíssimo bem-executado, Nicolas Winding Refn nunca esteve tão seguro na direção, e entrega seu melhor longa até o momento.