O Brasil é um país único, pois reúne uma diversidade de recursos naturais e um povo cuja característica marcante é o otimismo. Otimismo com o futuro, com a vida e, principalmente, com os momentos difíceis. O otimismo, muitas vezes, pode ser confundido com uma ilusão ou com um sonho, ao mesmo tempo em que pode ser motivo de chacota. Todos nós somos assim: sonhadores e otimistas. As nossas histórias poderiam estar nas telas de cinema. Mas, em “2 Filhos de Francisco”, filme de estréia do diretor Breno Silveira, veremos a história de um brasileiro lutador e que nunca desistiu de um sonho.
Francisco é o pai de Mirosmar e Welson, mais conhecidos como Zezé Di Camargo e Luciano, que já foi considerada a dupla sertaneja mais bem-sucedida do Brasil. Entretanto, como se pode perceber por “Dois Filhos de Francisco”, o caminho deles para o sucesso foi muito difícil e, se Zezé Di Camargo e Luciano são o que são hoje, muito eles devem ao pai. Francisco, antes mesmo de se tornar pai, visualizou que seus filhos iriam trabalhar com música. Foi nesse ambiente que Mirosmar (e os outros filhos) nasceram, em uma casa aonde a família se reunia para escutar o rádio, e não para assistir TV – um meio de comunicação que não era muito acessível para a população na década de 60.
Francisco (interpretado com competência por Ângelo Antonio) sacrificou-se muito para fazer acontecer o futuro que vislumbrou para seus filhos. Para a sorte dele, este sonho não foi imposto aos meninos, uma vez que Mirosmar (a revelação Dablio Moreira, quando garoto; e Márcio Kieling, quando ele já se apresenta como Zezé) e Emival (Marco Henrique) – seus filhos mais velhos – levavam jeito para a música. Os dois irmãos aprenderam a tocar sozinhos instrumentos como a gaita e o acordeom (no caso de Mirosmar) e o violão (no caso de Emival) e logo estavam cantando em comícios políticos e concursos de duplas infantis.
Na medida em que a carreira dos meninos evoluía, o roteiro escrito por Patrícia Andrade e Carolina Kotscho vai se dividindo entre o retrato da busca da ascensão profissional por Mirosmar e Emival (que lidam com empresários malandros e a rotina na estrada em tão tenra idade) e a crônica sobre a vida de sacrifícios financeiros e familiares que Francisco e sua esposa Helena (a ótima Dira Paes, no ar atualmente na novela “Salve Jorge”) levavam. A trama de “2 Filhos de Francisco” dá uma guinada quando Mirosmar vira Zezé e ganhou uma nova segunda voz na dupla musical familiar: Welson/Luciano (Thiago Mendonça) – o terceiro filho de Francisco a ter vocação para a música – com quem ele grava um disco, que fica engavetado na gravadora, pois eles não tinham um hit. A vida de dificuldades dessa família não iria continuar pra sempre e, mais uma vez, Francisco dá voz à sua visão e, com uma estratégia de divulgação inédita, transforma “É o Amor” em um sucesso estrondoso. O final desta história todos nós conhecemos.
Apesar de “2 Filhos de Francisco” relatar a história de Zezé Di Camargo e Luciano, o filme não feito para os fãs de carteirinha da dupla. O relato possui um apelo universal, pois, como mencionei no início, a história de Francisco é igual à de muitos outros pais que fazem de tudo para que seus filhos tenham um futuro melhor do que os deles. Você pode não gostar da música que Zezé Di Camargo e Luciano fazem, mas garanto que irá admirar a persistência e a perseverança deles (e da família como um todo) como pessoas depois de assistir ao filme. E isto é um resultado direto da direção de Breno Silveira, que une a técnica cinematográfica à emoção – uma receita que é sempre infalível.