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    O Mensageiro
    Críticas AdoroCinema
    1,5
    Ruim
    O Mensageiro

    Ser Humano

    por Francisco Russo

    A complexidade de emoções e pensamentos faz cada indivíduo ser único. Por mais que certas reações possam ser previstas, de acordo com o perfil da pessoa ou até mesmo o impacto emocional que determinado evento carrega, é impossível definir com absoluta certeza o que acontecerá. O Mensageiro trata desta "imprevisibilidade controlada" quando a notícia da morte de um parente próximo é entregue. Mais do que isso, o filme aborda as variações emocionais pelas quais as pessoas passam ao simplesmente viver.

    A história começa com o sargento Will Montgomery (Ben Foster, correto), recentemente atingido na guerra do Iraque e ainda lidando com as sequelas, físicas e psicológicas. De volta aos Estados Unidos, ele é direcionado para trabalhar no setor designado a informar as famílias dos soldados mortos na guerra. Sob supervisão do capitão Tony Stone (Woody Harrelson, em boa atuação), Will aprende o ofício e passa a ser também por ele afetado.

    Há duas situações bem claras no decorrer da história. A primeira é a tarefa em si, o devastador trabalho de avisar que alguém está morto. O choque é inevitável e as reações as mais diversas possíveis, do choro compulsivo à raiva desmedida. Dentro deste retorno há um padrão a ser seguido, prezando sempre o respeito e o não-envolvimento. "É preciso ter caráter para realizar este trabalho", alerta Tony Stone logo no início. É verdade. Não apenas para realizá-lo, mas também para suportá-lo. Afinal de contas, como não se sensibilizar com a dor alheia?

    Tony tenta ao máximo, criando uma autodefesa onde procura se manter à margem de tudo. Seus relacionamentos são fúteis, ele não tem amigos, não se apega a alguém. Esta aura de superficialidade, aliada à extrema consciência do peso que seu trabalho traz, não impede que tenha dificuldades para dormir ou tenha problemas de alcoolismo. Tony sente, apenas encontrou uma fórmula para minimizar ao máximo esta dor.

    A segunda situação, decorrente da primeira, envolve a transformação pela qual passa Will. Embrutecido e repleto de raiva, ele também tem seus mecanismos de autodefesa. Mas, ao longo do filme, é afetado pelas reações que recebe devido ao trabalho que realiza. Especialmente por Olivia Pitterson (Samantha Morton, em grande atuação), a única que lhe trata bem. Este simples ato provoca um forte impacto em Will, que passa a se interessar por aquela pessoa. Questões morais e comportamentais entram em foco, tanto pelo lado do militar que a conheceu ao cumprir seu serviço quanto pela viúva que deve manter um luto regulamentar, como preza a sociedade.

    Estas variações emocionais são o que move e o que há de mais interessante em O Mensageiro. Trata-se de um roteiro delicado, bastante sensível, que trata com respeito e sem deixar de ser realista todos os lados envolvidos. Um filme que, de certa forma, sintetiza o que é ser humano. Este turbilhão de emoções que muitas vezes faz com que as pessoas não ajam de forma racional, seguindo mais o coração do que a razão, mas que também impede que nos tornemos meros robôs. Bom filme, que rende momentos de reflexão.

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