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    Criação
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
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    O DESIQUILIBRADO DARWIN

    por Roberto Cunha

    Quem pretende entrar na sala escura achando que vai ter um clarão de sabedoria sobre a vida e a obra do escritor inglês Charles Darwin, vale o aviso antes do apagar das luzes: não se trata de uma biografia e efeitos colaterais podem ser sentidos logo nos primeiros minutos de exibição. Por outro lado, se você considera interessante um pouco de confronto entre a igreja e a ciência e, de quebra, questionamentos sobre o poder dos remédios e da medicina nos homens, o longa de Jon Amiel pode ser assistido sem contraindicações.

    Criação foi baseado no livro "Annies’s Box", escrito pelo tataraneto de Darwin, e o filme acompanha os momentos que antecederam a publicação do antológico "A Origem das Espécies" e os conflitos existenciais que afligiram seu autor em vias de divulgá-lo. Na história, você vai ver um Darwin capaz de conversar sobre a importância do equilíbrio entre as espécies, mas incapaz de se manter mentalmente equilibrado. Um homem atormentado por suas constatações de que a natureza é um campo de batalha e a mente humana um território minado. Dito isso, assistir o drama vivido pelo casal (também na vida real) Paul Bettany e Jennifer Connelly não é missão das mais difíceis devido ao seu talento incontestável. Mas é curioso notar que a escalação deles pode causar uma certa sensação de déjà vu ao mostrar uma esposa devotada e um marido atormentado, remetendo ao sucesso Uma Mente Brilhante. Apesar de não ser o mesmo ator como esposo, algumas cenas lembram muito.

    "Você matou Deus!" Quem ouve esta frase espertamente sapecada no trailer e, depois, novamente no início da trama espera uma porrada de filme. Porém, o roteiro recheado de flashbacks perde ritmo em vários momentos e a narrativa só ganha peso adicional quando investe (de leve) nas questões religiosas, nos conceitos de medicina e até numa “espécie” de primórdios da psicanálise – inexistente – e, literalmente, um bicho de sete cabeças para a época. Com trilha sonora sublime de Christopher Young (Chegadas e Partidas), permeando belas imagens (algumas “a la" Discovery Channel) e boa reconstituição de época, Criação, definitivamente, não é o bicho em termos de roteiro, pode causar espécie para os desavisados e serve para conhecer um pouco da origem de Darwin.

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