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    Eu, Meu Irmão e Nossa Namorada
    Críticas AdoroCinema
    4,0
    Muito bom
    Eu, Meu Irmão e Nossa Namorada

    Além de um Péssimo Título

    por Francisco Russo

    Títulos ruins no Brasil infelizmente não são novidade, mas às vezes as distribuidoras se superam. Que tipo de atração tem Eu, Meu Irmão e Nossa Namorada junto ao público em geral? Apenas o título, sem saber algo sobre a história ou elenco, já afugenta, pela idéia que passa de ser uma daquelas comédias idiotas sobre triângulo amoroso. E aqui está o grande erro: não é. Trata-se de um filme bastante agradável, maduro e divertido. E que, importante ressaltar, possui Juliette Binoche e Steve Carell no elenco.

    Carell nos últimos anos tem construído sua carreira de forma bastante interessante. Obteve destaque seguindo o estilo careteiro de Jim Carrey, como pôde ser visto em Todo Poderoso e A Feiticeira, mas não se prendeu a isto. Em Pequena Miss Sunshine demonstrou sua capacidade em papéis mais sérios, apesar de ainda envolvendo humor. Esta seriedade também o ajudou a compor seu Maxwell Smart de Agente 86, no sentido do personagem acreditar em si e em seu trabalho. Aqui pode-se perceber mais uma de suas facetas: a do homem comum.

    Seu Dan Burns é um viúvo que cuida das três filhas, ainda enlutado devido ao falecimento de sua esposa anos antes. Autor de uma coluna de jornal em que tenta ajudar aos outros - "Dan in Real Life", título original do filme -, um belo dia se vê em uma situação inesperada: conhece uma mulher atraente e volta a sentir aquele velho formigamento, típico do início de uma paixão. Só que a felicidade do encontro de alguém que enfim lhe atraia dura pouco: logo ele descobre que trata-se da mais nova namorada de seu irmão caçula.

    Faço agora uma pergunta ao leitor: o que seria uma mulher atraente? Trata-se de um conceito altamente subjetivo, que pode ser analisado sob vários aspectos. Beleza natural, por exemplo. Charme. Inteligência. Bom papo. Humor. Dan Burns não é o tipo de homem que se interessa por uma "capa da Playboy", apenas para usar um exemplo extremo, mas que requer algo mais. Requer conteúdo, especialmente. Sua aproximação com Marie, personagem de Juliette Binoche, ocorre devido a isso. Não se trata daquela paixão atônita, em que o casal logo se agarra aos beijos, mas algo conquistado através de sutilezas, de compreensão mútua, da existência de pensamentos similares. Não é à toa que o encontro do casal principal se dá numa... livraria.

    É este tipo de conceito que torna Eu, Meu Irmão e Nossa Namorada um filme muito superior ao que seu pavoroso título sugere. Outro exemplo: a família Burns se reúne anualmente em uma casa de praia, mas não se trata de algo suntuoso, com vários quartos e regalias. Trata-se de um local bucólico, que prega a união familiar e não traz uma única brincadeira eletrônica, entre adultos ou crianças. O máximo que se vê é o uso do celular, nada mais. É uma realidade hoje praticamente inexistente, ao menos nas grandes cidades.

    É claro que o filme também possui seu lado clichê, com a descoberta de que Marie é a namorada de Mitch - Dane Cook, mais uma vez destoando em cena - e o inevitável triângulo amoroso sendo formado. Há toda uma tentativa de evitar o óbvio, o que inclusive faz parte do jogo de sedução apresentado. Mas a frase que melhor define o que é Eu, Meu Irmão e Nossa Namorada é dita por Dan, já no terço final da história: "você sabe que se pudesse esta pessoa a ajudaria a ser uma melhor versão de si mesma". Isto, apenas isto, dá o tom de que não se trata de um mero namoro ou interesse sexual, mas algo mais profundo. Algo mais maduro.

    Dan Burns, assim como no título de sua coluna, passa a viver a vida real. Com todas as suas inevitáveis dificuldades e alegrias. Agora retomo o tema inicial deste texto: você esperaria isto de um filme com este título? Eu, sinceramente, não. O que ressalta ainda mais o erro cometido em sua escolha.

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