Na década de 90, quando se falava em "drama de tribunal", era impossível não se lembrar das adaptações cinematográficas baseadas em livros escritos por John Grisham. Só para citar algumas delas: "A Firma", "O Dossiê Pelicano", "O Cliente", "Tempo de Matar", "O Homem que Fazia Chover" e este "O Segredo", filme dirigido por James Foley.
A história é bem simples e envolve temas como racismo, violência e relações familiares. No roteiro escrito por William Goldman e Chris Reese, Chris O'Donnell interpreta um jovem advogado chamado Adam Hall que decide retomar às suas origens ao se voluntariar para pegar o caso de seu avô, Sam Cayhall (Gene Hackman), que foi condenado à pena de morte pelo atentado que resultou na morte de duas crianças e na mutilação do pai destas - um advogado que defendia causas relacionadas aos Direitos Civis. Podemos fazer um parêntese aqui para apresentar um pouco da história pessoal de Sam e que é fundamental para que possamos compreender como ele cometeu o crime que ocasionou a sua condenação: ele era membro da Ku Klux Klan em um dos Estados em que a segregação racial norte-americana foi uma das mais marcantes, o do Mississippi.
Uma coisa me prendeu, enquanto eu assistia a "O Segredo": tentar entender o por quê de Adam ter largado tudo para ir ajudar o avô - que causou tanto sofrimento à sua família - até o último momento, sem medir as consequências pelos seus atos, como também sem perceber a implicação do que a presença dele causaria nos seus outros parentes - notadamente, a tia Lee (Faye Dunaway).
Neste sentido, percebemos o quanto a tradução "O Segredo" foi infeliz. O filme não tem nada de misterioso. Pelo contrário... As falhas de caráter de Sam são totalmente conhecidas daqueles que fazem parte do seu círculo mais íntimo - apesar do longa cair na tentação de querer humanizá-lo. A verdadeira jornada deste filme está resumida no reencontro da família Cayhill, marcada pela dor e pela vergonha. Quando Adam chegar ao final do seu percurso, uma nova história estará pronta para ser construída, sem fantasmas do passado para marcar os novos tempos.