Críticas AdoroCinema
2,0
Fraco
Submersão

Ousado, mas raso

por Lucas Salgado

Diretor de obras-primas como Paris, Texas e Asas do Desejo, e de belos documentários como Buena Vista Social Club e Pina, o cultuado diretor alemão Wim Wenders chega aos cinemas brasileiros com seu mais novo trabalho. Exibido no Festival de Toronto 2017, Submersão conta a história de amor de Danielle (Alicia Vikander), uma exploradora do oceano que se prepara para descer ao abismo, e James (James McAvoy), um agente cuja missão na África o coloca em grande perigo. 

O filme intercala os momentos de dificuldades dos dois em suas perigosas missões com lembranças do momento escapista em que se conheceram e se apaixonaram. A tentativa de Wenders em valorizar as duas histórias é boa, mas ao mesmo tempo acaba dando a impressão de que estamos diante de longas diferentes. Há mais de uma história em Submersão e elas não parecem caminhar juntas como deveriam. 

Baseado em livro de J.M. Ledgard, o longa tem roteiro de Erin Dignam, responsável por outras obras nada inspiradas como Crime Passional e Os Caminhos do Amor. Há uma história de amor, uma história de desafio científico e uma história de guerra e ação. E as tramas não se comunicam bem, gerando a impressão de que estamos diante de algo muito complexo, quando na verdade é algo até bem simples, que não funciona.

Tendo em vista o histórico recente de Wenders - com exceção de seus documentários -, é curioso constatar que um diretor tão consagrado pareça tão inseguro e sem personalidade. Submersão é antes de tudo um filme sem personalidade, sem alma. Há elementos que possam soar interessantes, mas que nunca são usados em harmonia.

Diante disso, nem mesmo os talentos incontestáveis de Vikander e McAvoy salvam a obra do afogamento. No campo da atuação, destaca-se ainda a péssima escolha de fazer a personagem de Vikander praticamente sussurrar em cena, fazendo com que o áudio seja por vezes incompreensível. Alexander Siddig e Charlotte Rampling completam o ótimo (e desperdiçado) elenco. 

Submergence (no original) não consegue ser cientificamente interessante e nem propõe reflexões sobre conflitos armados. Até consegue cativar um pouco como romance, mas nada muito empolgante. As localidades são belas, mas nem a fotografia é um verdadeiro destaque da produção.

Desequilibrado, irregular, frágil e acima de tudo ordinário, Submersão está anos-luz dos melhores trabalhos de seu diretor e de seus protagonistas. Uma obra que parece relegada ao esquecimento.