Críticas AdoroCinema
1,5
Ruim
Tempestade: Planeta em Fúria

Destruindo o mundo, mais uma vez

por Francisco Russo

Talvez você não o conheça pelo nome, mas Dean Devlin é o produtor responsável por praticamente todos os filmes-catástrofe dirigidos por Roland Emmerich - apenas O Dia Depois de Amanhã e 2012 não estão em seu currículo. Com tal histórico, não é de se espantar que, em sua estreia como diretor nas telonas, ele tenha resolvido enveredar pelo mesmo caminho. O que surpreende de fato é que Tempestade: Planeta em Fúria nada mais é do que um arremedo de ideias já colocadas em prática por Emmerich, o que de antemão o transforma em um genérico escancarado - com direito à presença de Gerard Butler, e todos os prós e contras que o ator traz consigo.

Senão, vejamos: se a ideia da ameaça climática e o fundo político de contornos globais vêm de O Dia Depois de Amanhã, é 2012 quem amplia a destruição a vários países. Tempestade pode ser resumido como uma mescla destas duas propostas com uma pitada de Sharknado - Corra Para o Quarto, onde também há um mecanismo criado pelo homem para controlar o clima, cada vez mais violento e instável. É a partir da existência desta rede global de satélites que toda a narrativa se desenvolve, com um enfoque relevante na negociação política que possibilitou a implementação e gerenciamento de proposta tão ambiciosa. O presidente americano - sempre ele! - mais uma vez ganha importância, aqui personificado por Andy Garcia em uma interessante mensagem subliminar pró-latinos, que aparece também em uma boa piada envolvendo o personagem de Eugenio Derbez, já perto do final.

Por mais que até traga uma subtrama ressaltando o caráter internacional da iniciativa - dentro de certos limites hollywoodianos, é bom ressaltar! - e o pouco apreço aos políticos em geral, fato é que Tempestade é um típico filme-catástrofe, à base de muitos efeitos especiais. A inserção de Gerard Butler neste ambiente traz ao filme mais um viés, o da truculência na resolução de problemas, aliado ao absurdo imediato que é vê-lo na pele de um engenheiro marombado capaz não só de coordenar a construção da estação internacional em órbita como, ainda, distribuir uns bons socos em quem atravessar seu caminho. Até aí, tudo bem: trata-se do absurdo habitual dos filmes de ação descerebrados, que topam tudo em nome do carisma de um astro. O problema atende por um detalhe por vezes desconsiderado em filmes do tipo: roteiro.

É claro que, em um filme como Tempestade: Planeta em Fúria, não se deve esperar uma história aprofundada. O objetivo principal é mesmo provocar explosões a esmo, em sequências de ação envolvendo cidades conhecidas que fujam do alvo habitual em filmes do gênero - ou seja, Nova York nem pensar! Aqui quem ganha espaço é Madri, Hong Kong, Nova Deli, Dubai e até o Rio de Janeiro, em uma sequência que provoca risos involuntários devido à iminente onda do famoso "frio glacial do Leblon". Entretanto, por mais que tenha tal objetivo, é preciso ter um mínimo de coerência narrativa de forma a sustentar tal proposta. E isso o filme não tem, como aponta a rocambolesca trama envolvendo o personagem de Ed Harris, a inacreditável mensagem cifrada trocada entre irmãos ou ainda as justificativas pífias dadas por alguns vilões. "Não tem curiosidade em ver o mundo destruído?", um deles pergunta a Butler. Simples assim.

Além disto, há em Tempestade uma esmiuçada - e irritante - repetição sobre cada detalhe da trama, de forma que não haja qualquer dúvida para o espectador desatento. Várias são as situações mostradas visualmente que, logo em seguida, são explicadas em palavras, o que provoca um cansaço imediato, impulsionado ainda pela trilha sonora tendenciosa que, por vezes, flerta com o melodrama. Isto sem falar no absoluto desperdício de personagens em cena, em especial os de Alexandra Maria Lara, Zazie Beetz e o próprio Eugenio Derbez. Cada um deles serve apenas para cumprir sua respectiva cota de minoria em cena, já que a trama não tem o menor interesse em desenvolvê-los.

Repleto de dialogos redundantes e com cenas de ação burocráticas, Tempestade: Planeta em Fúria é um filme ruim que sequer justifica seu objetivo de ser mera diversão. É difícil entender como os estúdios hollywoodianos ainda investem em projetos do tipo, acreditando que a mera existência de efeitos especiais capitaneados por um astro qualquer seja suficiente para conquistar o público. Com vários problemas de lógica narrativa, nem mesmo as interessantes mensagens subliminares de fundo político são capazes de sustentar o interesse neste filme-catástrofe que, ainda por cima, desperdiça o talento de um Ed Harris para investir nos sempre burocráticos Jim Sturgess e Abbie Cornish. Gerard Butler até faz o que pode, mas os problemas do filme não devem ser creditados em sua conta.