Críticas AdoroCinema
4,5
Ótimo
Planeta dos Macacos: A Guerra

A evolução a galope

por Renato Hermsdorff

Existe uma razão pela qual parece tão natural ver “macacos” cavalgando cavalos logo no início de Planeta dos Macacos: A Guerra. Na realidade, duas razões: Planeta dos Macacos: A Origem (2011) e Planeta dos Macacos: O Confronto (2014). O terceiro filme da nova saga chega como a cereja (banana?, perdão) do bolo que põe um ponto final (ao que tudo indica) com maestria em uma das franquias mais consistentes da atualidade.

Ao longo de pouco mais de seis anos, acompanhamos a evolução de César (um marcante trabalho de Andy Serkis). Não apenas do ponto de vista tecnológico, com um nítido salto na técnica de captura de movimento (da qual Serkis já se tornou um embaixador), mas sobretudo sob a ótica narrativa, carregada de significados.

Se A Origem bebia do conceito da evolução das espécies difundido por Darwin ao apresentar um chimpanzé recém-nascido fruto de uma criação única (e, ironicamente, “humana”) por parte do cientista Will Rodman (James Franco) – a quem o homem insistiu em “pôr no seu lugar” de selvagem –, O Confronto destacou o estopim sociológico da submissão do protagonista a esse “tal lugar”, relegando a Cesar, a despeito de sua inegável inteligência – e de forma burra por parte dos humanos –, o ônus da violência previsível. Não deu outra. Mesmo com os esforços de Malcolm (Jason Clarke), a oposição entre as espécies se fez obrigatória.

Agora, o buraco é (ainda) mais embaixo. E pessimista. Sem contar com a simpatia de nenhum humano em especial (fato que, associado à troca constante do elenco, é mais um indício de que, de fato, eles – ou nós – são assessórios na trajetória do verdadeiro protagonista), César terá pela frente o obstinado coronel de aspirações quase nazistas vivido por um excepcional Woody Harrelson à la Apocalypse Now. Enquanto o primata se divide entre a vingança pessoal e a segurança do bando, vê os planos do militar afrontarem não apenas o time dos símios.

Ou seja, não se trata mais (apenas) da luta do bem vs. mal. Assim como César, a franquia evolui. A boa notícia, dentro desse cenário, é que há, aí, um alerta. Matt Reeves, sensato diretor dos últimos dois filmes, usa a máquina de entretenimento de Hollywood para fazer o público pensar.

E o faz sem que você perceba. Claro, ele não dispensa o formato clássico do roteiro hollywoodiano, que inclui, até o alívio cômico, dessa vez encarnado pelo “macaco mau” dublado por Steve Zahn, o novato na franquia. O fato é que tudo é muito bem fundamentado em Planeta dos Macacos – até para o nome do personagem de Zahn há uma explicação, uma ótima sacada, aliás.

Com uma impactante cena de abertura que acompanha os soldados invadindo o território dos macacos, Reeves faz o favor de evitar a pirotecnia das intermináveis (nada contra, mas elas pouco contribuíam para a evolução da narrativa nos longas anteriores) cenas de batalha. A guerra que o título anuncia se dá muito mais em um campo psicossociológico do que em cenas do front.

Se há um ponto fora da curva nessa evolução, este seria o excessivo “bom mocismo” de César que, trocando em miúdos, seria resultado de uma tentativa de humanizar demais o chimpanzé. Mas a julgar pela complexidade da metáfora a que a franquia alcançou, trata-se de um item digno de desconto. No fim das contas, há que se preservar algum otimismo – por sinal, também fundamentado no filme, na figura de Nova (Amiah Miller), uma garotinha. E mais não é recomendado dizer, além de: corra (ou galope) já para o cinema.