Críticas AdoroCinema
3,5
Bom
Ruby Sparks - A Namorada Perfeita

Sensível fantasia

por Lucas Salgado

"Lembra-se como papai costumava dizer que eu tinha uma imaginação superativa?", questiona o personagem principal ao seu irmão em determinada parte do filme. Imaginação foi o que não faltou à roteirista e protagonista Zoe Kazan na construção da história. Ruby Sparks - A Namorada Perfeita é quase que um conto de fadas, com a diferença que possui muita personalidade e trata de temas sérios como solidão e a vontade de controlar a pessoa que ama.

A trama gira em torno de um escritor consagrado que tem dificuldades para começar o novo livro. Depois de uma série de sonhos, ele começa a escrever loucamente sobre uma garota inusitada chamada Ruby, que por sinal namora um sujeito que tem o mesmo nome que o autor, Calvin. Determinado dia, ele acaba surpreendido pela garota que se materializa em sua casa e faz tudo aquilo que ele descreveu no texto.

A ideia de um escritor com bloqueio criativo é pra lá de um clichê cinematográfico, estando presente em longas como Barton Fink - Delírios de Hollywood. Um personagem de livro que ganha vida também já foi visto em Mais Estranho que a Ficção. O diferencial de Ruby Sparks não é a apenas história, mas principalmente o clima e o espírito do filme. Um dos principais méritos da produção está na direção da dupla Jonathan Dayton e Valerie Faris. Eles levaram seis anos para fazer um filme depois do sucesso Pequena Miss Sunshine, mas o novo trabalho mostra que não desaprenderam. Os dois continuam, como poucos, unindo os gêneros comédia e drama.

Paul Dano, que atuou em Pequena Miss Sunshine, foi escolhido para interpretar Calvin, mas engana-se quem pensa que ele foi chamado pelos diretores. Ele é namorado de Zoe Kazan e está no projeto desde o começo, atuando como produtor executivo. Foi dele a ideia de chamar o casal de cineastas. É curioso vê-lo trabalhando novamente com Dayton e Faris, afinal ele é hoje um ator muito mais completo, tendo feito participações marcantes em obras como Sangue Negro, de Paul Thomas Anderson. Ele vive um Calvin que é a personificação do autor solitário. E quando digo solitário, quero dizer na alma. Por mais que tenha a companhia constante do irmão, do psicólogo e do editor, ele se sente um peixe fora d'água, razão pela qual mergulha de ponto no fantasioso relacionamento.

Ruby, por sua vez, é a garota dos sonhos. Bela, sensível e problemática, mas no limite de ser algo atraente em sua personalidade, como bem destaca Harry (irmão de Calvin vivido por Chris Messina). Ela é uma espécie de Zooey Deschanel ruiva e mais estranha. O elenco conta ainda com ótimas participações de Annette Bening, Antonio Banderas e Elliott Gould. Destaque da série True Blood, Deborah Ann Woll tem quase uma ponta, mas de significativa importância na trama.

Assim como em Little Miss Sunshine (no original), os diretores aproveitam todo seu background musical para fazer da trilha sonora um elemento fundamental para a história. Em entrevista exclusiva ao AdoroCinema, eles revelaram que fizeram algo totalmente diferente do padrão, chamando o compositor da trilha para a sala de edição, fazendo com que trabalhasse na música ao mesmo tempo em que iam montando o longa. O resultado é extraordinário.

Neta do lendário Elia Kazan (Sindicato de Ladrões) e filha dos roteiristas Nicholas Kazan (O Reverso da Fortuna) e Robin Swicord (O Curioso Caso de Benjamin Button), Zoe faz bonito em seu primeiro texto produzido para a tela grande. Ela conseguiu criar personagens carismáticos que despertam o interesse e o carinho do público.

Ruby Sparks: A Namorada Perfeita pode não ser tão bom quanto o filme anterior da dupla, tendo algumas quedas de ritmo claras. Mesmo assim, será difícil não se envolver com esta história de amor.