Críticas AdoroCinema
2,0
Fraco
Caminhos Da Floresta

Caminhos tortuosos

por Francisco Russo

Não é de hoje que a Broadway serve de matéria-prima para o cinema. Seja pela aprovação prévia do público ou por questões criativas, a história traz inúmeros casos de projetos que migraram dos palcos para as telonas, alguns bem-sucedidos – Cabaret, Chicago, My Fair Lady -, outros não – Rock of Ages, Rent - Os Boêmios. Caminhos da Floresta é a tentativa mais recente, embalada pelo tremendo sucesso prévio e pelo tema popular: o uso de personagens clássicos dos contos de fadas. Para comandar o espetáculo foi chamado um especialista em adaptações teatrais: Rob Marshall, de Chicago e Nine.

A história é, na verdade, uma grande mescla dos contos de fadas. Há Cinderela (Anna Kendrick), Chapeuzinho Vermelho (Lilla Crawford), João (Daniel Huttlestone) e o pé de feijão, Rapunzel (MacKenzie Mauzy)... mas os personagens principais são um padeiro (James Corden), sua esposa (Emily Blunt) e uma bruxa (Meryl Streep). A trama base é simples: o casal tem um feitiço sobre si e precisa encontrar alguns objetos para desfazê-lo. No fim das contas, a busca é mero pretexto para provocar os mais diversos encontros no mundo encantado e, de certa forma, misturar as histórias clássicas de cada personagem. São tais recriações e mudanças de rumo que dão um certo charme ao longa-metragem, apesar de um problema crucial: a ausência de magia. Não do ato mágico em si, mas da afeição pelo público da história apresentada.

Apesar do ambiente facilmente reconhecível pelo espectador, Caminhos da Floresta derrapa na reverência exagerada ao formato teatral. É notório que, especialmente na Broadway, um dos maiores atrativos é o modo como questões complexas da trama são resolvidas visualmente, seja através dos figurinos, dos cenários ou até dos efeitos especiais, cada vez mais usados nas superproduções. Marshall tenta recriar no filme o impacto provocado no teatro, numa espécie de repetição da fórmula que deu certo em Chicago, mas esquece-se que muito do brilho se deve ao fato do espectador ver tudo acontecer diante de si, naquele instante de tempo. Se Chicago se sustenta na trama repleta de sarcasmo sobre o mundo das celebridades e nas ótimas canções, o mesmo não acontece em Caminhos da Floresta, bem mais dependente do lado estético. Até há uma ou outra canção bacana e bem encenada pelo elenco, mas são ocasionais. O resultado é um filme pesado devido às amarras teatrais, que impedem a melhor fluidez da narrativa e até mesmo prejudicam o visual como um todo. O melhor exemplo é a cena em que Chapeuzinho Vermelho e a vovó estão na barriga do lobo, que mais parece ter saído de um filme de baixo orçamento dos anos 1980.

Apesar disto, há alguns pontos positivos. O maior deles atende por Meryl Streep, merecidamente indicada ao Oscar de atriz coadjuvante. Por mais que esteja sob pesada maquiagem, que recria todos os estereótipos existentes em torno da bruxa malvada, é possível notar as diferentes nuances da personagem, que não se sustenta na maldade pura e simples. Meryl ainda oferece uma das canções mais divertidas, na casa do padeiro, onde os versos são cantados em ritmo bem próximo ao do hip hop. Johnny Depp surge bem em sua breve participação como o lobo mau (apenas duas cenas) e Emily Blunt se destaca pelo talento vocal, enquanto que o restante do elenco é meramente burocrático. A exceção, desta vez negativa, fica por conta de Chris Pine, que faz um príncipe bastante afetado. É dele a pior sequência do filme, com a canção “Agony”, e também o melhor diálogo, sobre sua criação.

Com problemas de cronologia e personagens um tanto quanto inconsistentes, especialmente Cinderela (Anna Kendrick), Caminhos da Floresta fica devendo. Especialmente no terceiro ato da trama, quando o filme aparenta terminar e oferece uma nova reviravolta, até certo ponto inusitada. Terminasse ali e seria um musical leve e razoável, mas ainda se arrasta por cerca de meia hora e maximiza os problemas existentes no roteiro, trazendo ainda uma duvidosa mudança de tom ocorrida a partir de então.