Críticas AdoroCinema
4,0
Muito bom
O Homem da Máfia

Simples e bem bolado

por Roberto Cunha

Filmes que envolvem mafiosos, geralmente, exercem fascínio no espectador. Estão aí longas memoráveis, como a trilogia O Poderoso Chefão, Os Bons Companheiros, entre outros, que "eliminam" qualquer dúvida a esse respeito. O Homem da Máfia explora isso no título brasileiro e traz ainda um galã como um cara, digamos, cruel e quase misericordioso. Seu nome é Brad Pitt e o personagem chama-se Jack Cogan.

Baseado no livro "Cogan's Trade" (que eu não li), a história se passa em Nova Orleans, onde um trio de idiotas metidos a espertos resolvem roubar uma mesa de carteado ilegal, que funciona sob a chancela do crime organizado. A ideia deles era incriminar o responsável pelo jogatina (Ray Liotta), que já estava com o filme queimado com os capos. Mas malandro é o gato (ou Pitt, se você preferir) e Jack, chamado para desvendar o roubo e manter o prestígio dos chefões, acaba descobrindo a tramóia e vem chumbo grosso pela frente.

Mesclando violência extrema, humor e sarcasmo, o roteiro usa como pano de fundo a crise econômica americana em 2008 e as eleições presidenciais. Dentro desse contexto, as vozes de Bush, Obama e McCain funcionam quase que como trilha sonora ao longo dos 97 minutos. Não chega a ser chato (mesmo que você odeie política), quebra um pouco o ritmo, mas não dá para dizer que não funciona. Durante o assalto, por exemplo, combinou com a alta tensão e, depois, a crítica ferrenha ao famoso ex-presidente Thomas Jefferson e Barak Obama, fazendo um contraponto ao discurso "somos um povo" é perfeita. Afinal, para o matador a América "é cada um por si".

A ironia é o ponto alto do filme. Pode estar numa escopeta com um cano exageradamente serrado ou nos hilários diálogos entre mediador da cúpula (um ótimo Richard Jenkins) e seu contratado. Eles decidem quem vive, morre e apanha como se fosse numa empresa, mas levam em conta pensamentos "corporativistas", que impedem que algo seja feito. Num desses papos se descobre até que o título original (Killing Them Softly) tem a ver com a essência de Jackie, que prefere matar a distância, sem envolvimento, porque as vítimas começam a chorar, falar da mãe ... Insano, não?

Falando em loucura, a sequência em que ele detona uma das vítimas, mandando bala, em super câmera lenta é bem impactante (lembra Matrix, A Origem) e revela o grau de frieza de um matador profissional ao som de uma canção singela com título sugestivo ("Love Letters"). Falando nisso, o protagonista logo no início é apresentado ao som de uma providencial "The Man Comes Around" (Johnny Cash), e ao longo da trama ouve-se ainda "Heroin" (Velvet Underground) e até o clássico da Motown "Money (That's What I Want)", de Barrett Strong. Assim, se buscas uma trama simples, bem bolada, com ação moderada e dirigida por quem de bobo não tem nada (Andrew Dominik), pode pagar essa "propina", quer dizer, ingresso, sem medo de se arrepender.