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    Mostra SP 2018: "O roteiro do filme veio de um lugar muito pessoal", afirma Dario Mascambroni sobre Mochila de Chumbo (Entrevista exclusiva)

    Segundo longa-metragem do diretor argentino integra a programação do festival.

    Pela primeira vez presente no festival, o diretor argentino Dario Mascambroni integra a Competição de Novos Diretores da 42ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Seu segundo filme, Mochila de Chumbo, é um filme sensível que tem como protagonista um garoto em busca de vingança.

    Este é um filme focado especificamente em um momento importante da vida de Tomás, que já está decidido a encontrar o homem que tirou a vida de seu pai. Por não termos mais informações além das que vemos em tela, todo o restante fica à mercê da nossa imaginação, sendo relativo para cada olhar. Confira a crítica completa.

    O AdoroCinema conversou com o diretor sobre a criação desta história e os aspectos de uma infância perdida, muito bem abordados no longa. Confira a entrevista abaixo:

    1) Como foi o desenvolvimento do roteiro e das situações passadas por Tomás?

    Foi um longo processo. O roteiro está ligado a algo que aconteceu em minha família e sua primeira versão já veio de um lugar muito pessoal. Com o roteiro coescrito por Florencia Wehbe e Pipi Papalini, de alguma forma consegui falar sobre minha própria família e pensar neles de uma maneira cinematográfica, e não somente pessoal. Desde que a ideia original foi criada passaram pelo menos dois anos, até que ganhamos um concurso que nos auxiliou a filmar o longa.

    A ideia surgiu por conta de um primo meu, que era pequeno na época em que seu pai (meu tio) foi assassinado em uma circunstância confusa. Minha família me contou depois que meu primo queria buscar o homem que o matou assim que ele saísse da prisão, a fim de vingança. Isso me deixou numa sensação de impotência, pois eu pensava que se ele estava sendo bem cuidado pela minha família, não havia razão para enfrentar uma situação tão difícil. Mas apesar da ideia ser baseada nesta realidade realidade, toda a história narrada em Mochila de Chumbo é totalmente ficcional. Ele nunca encontrou o assassino do meu tio.

    2) A arma na mochila de Tomás representa o perigo que é tentar ir de encontro ao passado. Há uma relação com o peso que o menino enfrenta.

    Eu gosto da ideia de "peso da espada" como uma metáfora utilizada para definir o fardo que afeta qualquer pessoa, e que pode ser o resultado de uma situação difícil que ela está plantando para si. O protagonista Tomás representa uma parte da infância que, na minha percepção, não deveria possuir tal fardo, e que não é responsável por nada de ruim que acontece. Mas, mesmo tendo de lidar com este peso o tempo todo, ele se sai mais maduro que alguns adultos do filme.

    3) Como foi a recepção do público no Festival de Berlim?

    É sempre incrível ver uma recepção deste porte, com um público estrangeiro que por vezes chega a ser uma incógnita. Mas o público no geral simpatizou muito com o personagem de Tomás. Creio que há uma sensação de colocar-se no lugar desta criança, e não importa o país em que você vive: esta é uma história um tanto universal.

    4) A angústia de Tomás é aparente em quase todo o tempo, e só o que ele deseja, na verdade, é finalizar o julgamento que possui. Mas, mais do que isso, ele necessita da atenção da mãe.

    Sim. Eu acredito que, de alguma maneira, o filme aborda um aspecto sobre uma criança que precisa de atenção de sua família, sua mãe, sua escola... Enfim, da sociedade que não lhe dá a devida atenção. Me interessava contar uma história que representasse este menino que, muitas vezes, pode ser visto como delinquente ou uma carga a mais. E, para mim, nesta idade é muito mais importante ter um vínculo vindo naturalmente da família do que ele partir da vontade da própria criança. Dentro do vínculo com a mãe, existe a perda abrupta do pai, a morte que separou os parentes... Mas é no vínculo entre Tomás e sua mãe que se encontra certo "perigo" do que pode acontecer - ou não - ao final da história.

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