Corra, Mercúrio, corra!
Aaron Taylor-Johnson interpretou o Pietro Maximoff menos interessante dos últimos anos. Para começo de conversa, seria difícil competir com a versão mutante de Mercúrio que ganhou uma antológica sequência em câmera lenta na pele de Evan Peters em X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido (2014). Já o Mercúrio do Universo Cinematográfico Marvel (MCU, na sigla em inglês) foi desperdiçado ao ser morto de uma forma tosca em Vingadores: Era de Ultron (2015). Isso sem falar no visual do herói, que dá a entnder que faltaram recursos no setor de figurino quando chgou a hora de pensar nos trajes do velocista.
O problema não foi a morte em si, mas como e quando ela ocorre. Em primeiro lugar, o personagem foi morto logo no primeiro filme em que ele foi propriamente apresentado ao público, o que atenua o impacto da perda. Se mal tivemos tempo para conhecer o Mercúrio no MCU, como sentir sua falta? Em segundo lugar, fazer com que o personagem mais rápido do filme não tenha sido capaz de desviar de algumas balas para salvar o Gavião Arqueiro (Jeremy Renner) e uma criança em Sokovia não é uma boa maneira de explorar as habilidades do herói. Ao invés de usar seus poderes para tirar o Gavião e o menino da rota de tiros, Mercúrio se faz de escudo humano. Para piorar, as últimas palavras do herói são uma piada curta, marca registrada do diretor e roteirista Joss Whedon, totalmente fora do tom.
Steve e Natasha na loja da Apple
O chamado product placement é uma velha estratégia de marrketing indireto consolidada em vários setores do audiovisual, das novelas da TV Globo aos filmes da franquia James Bond (ou você achava que o 007 dirige um Aston Martin à toa?). Nem mesmo uma franquia tão endinheirada quanto o Universo Cinematográfico Marvel está imune.
Em Capitão América 2: Soldado Invernal (2014), Steve Rogers (Chris Evans) e Natasha Romanoff (Scarlett Johansson) tem a posse de um pen drive importantíssimo com informações encriptadas deixadas por Nick Fury (Samuel L. Jackson) sobre a Hydra e o paradeiro do Soldado Invernal (Sebastian Stan). A investigação que está em curso conduzida pelos dois é questão de segurança nacional. Sendo assim, você poderia imaginar que os heróis teriam bastante cautela quando fossem explorar o conteúdo armazendo naquele dispositivo, certo? Errado. Por uma questão que envolve puramente o merchandising, Steve e Natasha vão à uma loja da Apple para usar um computador público, algo que ninguém que pretende manter um assunto confidencial faria, especialmente um soldado experiente como Rogers e uma espiã como Romanoff. E ainda há toda a dinâmica humorística envolvendo Rogers e um funcionário da loja que simplesmente não funciona.
O Dr. está nu
Para falar a verdade, até Thor: Ragnarok (2017) os filmes dedicados ao Deus do Trovão não eram tão bons. Além de não terem a mesma qualidade que os filmes dedicados aos demais heróis, o humor nunca funcionou tão bem quanto nos filmes sobre o Homem de Ferro ou sobres os Vingadores.
Thor: O Mundo Sombrio (2013), segundo filme estrelado por Chris Hemsworth, além de ter um dos piores vilões do MCU (Malekith) também tem uma das sequências mais constrangedoras que a franquia já permitiu chegar ao corte final. No longa-metragem, o astrofísico Dr. Erik Selvig sofre os efeitos colaterais de ter sido vítima da manipulação mental promovida por Loki (Tom Hiddleston) em Os Vingadores - The Avengers (2012). Mentalmente instável, o personagem de Stellan Skarsgård corre nu por Stonehenge enquanto é filmado pelas câmeras de redes de TV. Além de sem graça, a cena não ajuda a mostrar Selvig como um personagem de apoio mais interessante e ainda é eticamente questionável pela forma que trata personagens com distúrbios mentais (ainda que passageiros).
Vale lembrar também que apresentar um personagem sério como Selvig em uma situação assim desequilibra a maneira como o personagem é construído nos demais filmes do MCU. Sem contar que o Gavião Arqueiro também esteve sob o controle mental de Loki e não apresentou nenhum efeito colateral similar.
Aldrich Killian e os vilões ruins do MCU
Um dos aspectos mais debatidos de Homem de Ferro 3 foi a forma como o roteiro de Shane Black e Drew Pearce concebeu o vilão Mandarim, interpretado por Ben Kingsley. Um dos maiores arquiinimigos de Tony Stark nos quadrinhos, o personagem foi transformado em um fantoche usado para criticar as mentiras do governo dos Estados Unidos durante a Guerra ao Terror. A virada no enredo do filme chegou a figurar entre as melhores cenas do MCU em todos tempos na lista do AdoroCinema.
O grande problema de Homem de Ferro 3, entretanto, é que por trás da farça do Mandarim estava o verdadeiro vilão do filme, Aldrich Killian interpretado por Guy Pearce. Como em outros filmes da Marvel, Killian é um vilão de personalidade e motivações rasas, apenas uma ponte para o desenvolvimento do herói. No caso de Killian, o ressentimento do personagem contra o herói nasce de um convite para uma reunião recusado por Stark. Mais um vilão fraco do MCU para se somar a lista dos antagonistas esquecíveis da franquia como Malekith (Thor: O Mundo Sombrio), Abominável (O Incrível Hulk) e o Jaqueta Amarela (Homem-Formiga) e Whiplash (Homem de Ferro 2). Falando no Whiplash...