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    Rio2C 2018: Produtor de Pequena Miss Sunshine analisa o final do filme e fala sobre desfecho alternativo

    "Quando ela dança o espectador do filme percebe que ela dança com inocência enquanto a sociedade tem uma visão corrompida do que está acontecendo."

    Fox Searchlight Pictures

    "Não sabíamos se esse filme ia dar certo", afirmou o produtor Ron Yerxa durante um painel do evento Rio2C ao comentar o sucesso da comédia dramática Pequena Miss Sunshine (2006). O produtor esteve no evento carioca na manhã de quinta-feira (5) para falar sobre sua trajetória ao longo de quase três décadas dedicadas ao cinema independente nos Estados Unidos.

    Durante a conversa com o público, mediada pela produtora Maria Carneiro, Yerxa falou sobre a história da produtora independente Bona Fide Productions, companhia que fundou ao lado de seu parceiro de negócios Albert Berger. "Os filmes que nós fizemos deram uma contribuição positiva para a cultura de forma geral", comentou o produtor responsável por longas-metragens como Eleição (1999), Cold Mountain (2003), Pecados Íntimos (2006), Ruby Sparks - A Namorada Perfeita (2012) e Nebraska (2013).

    O produtor afirmou que sua parte preferida no trabalho é engrandecer os desfechos dos filmes nos quais realiza, sinalizando que enxerga sua função para além das tarefas executivas relacionadas ao financiamento e distribuição de uma obra. "Somos os tipos de produtores que consideram que a melhor parte do nosso trabalho é acertar os roteiros, fazer com que o filme tenha a montagem correta e engrandecer o máximo possível a história."

    Bruno de Lima/R2

    No caso de Pequena Miss Sunshine, os produtores solicitaram que o roteirista Michael Arndt reescrevesse o final do longa-metragem apenas seis semanas antes da première do filme no Festival de Sundance. "Nós tínhamos diversos finais diferentes para o filme e em um deles eles a família roubava a coroa e colocava na cabeça da menina. Levou um tempo até chegarmos no desfecho que fizemos e ele concluiu nossas ideias dramáticas no filme muito bem."

    No road movie de estreia dos diretores Jonathan Dayton e Valerie Faris, o público acompanha a agridoce rotina de uma família disfuncional que viaja pelos Estados Unidos para que a caçula, interpretada por Abigail Breslin, participasse de um concurso de beleza. Eles viajam do estado do Novo México até a Califórnia durante uma jornada que faz cada membro da família lidar com suas próprias frustrações e redescobrir o afeto que nutrem uns pelos outros.

    "Neste filme, o objetivo de todos os personagens é frustrado. Eles não conquistam nada do que eles queriam. Ela [Breslin] não vence o concurso, o pai [Greg Kinnear] dela não se torna um palestrante motivacional bem sucedido, o filho [Paul Dano] não se torna piloto... E o que é bonito é que ao menos o objetivo da menina no concurso de beleza não valia a pena alcançar. E quando ela dança o espectador do filme percebe que ela dança com inocência enquanto a sociedade tem uma visão corrompida do que está acontecendo."

    Depois da cena da dança, a família disfuncional faz as pazes e celebra o ato espontâneo da menina. Na última cena do filme, todos empurram o veículo para fazer o motor engrenar e, um a um, entram na van. "E, finalmente, no final eles formam uma família sem nenhuma outra ambição além de celebrar o fato de que são uma família."

    Pequena Miss Sunshine foi indicado a quatro prêmios no Oscar e venceu dois, o de melhor roteiro original para Michael Arndt e o de melhor ator coadjuvante para Alan Arkin. O longa-metragem também foi indicado ao prêmio de melhor filme, nomeação concedida aos produtores, mas Berger e Yerxa não foram nominalmente indicados porque o filme teve cinco produtores e a Academia apenas indica até três profissionais nesta categoria.

    Fox Searchlight Pictures

    Durante o painel, Yerxa também disse que gosta de fazer filmes sobre personagens que definiu como "párias", "rejeitados pela sociedade" e "belos perdedores", mas que são movidos por um senso de decência interna. O produtor também defendeu que deseja que as facilidades do streaming e VOD não acabem com a cultura de frequentar a sala de cinema ("cinemas são lugares comunais e a experiência comum é importante") e elogiou os sucessos recentes de filmes independentes como Moonlight - Sob a Luz do Luar (2016), Corra! (2017) e Projeto Florida (2017) ("É ótimo quando filmes como esses três conseguem ser bem sucedidos pois eles são o um exemplo perfeito do que queremos fazer").

    O produtor também falou sobre seu primeiro projeto em Hollywood e sobre a fundação da Bona Fide Productions. Yerxa trabalhava para outro estúdio e estava "frustrado", em suas palavras, com suas perspectivas e seu caminho cruzou com o de Albert Berger, que trabalhava como roteirista, mas tinha outros objetivos na indústria. A parceria dos dois começou em 1989, quando os dois estiveram em Sundance, Meca do cinema independente.

    Gramercy Pictures

    "Nós fomos expulsos de uma festa, não por mau comportamento mas porque nós estávamos tentando entrar de penetras. Por conta disso, nós atravessamos a rua para assistir Sexo, Mentiras e Videotape na première mundial do filme. A sala estava meio vazia e ninguém sabia quem era Steven Soderbergh", contou Yerxa. Depois da sessão, a dupla conversou com Soderbergh, que iniciava sua carreira de forma meteórica, e marcou uma reunião. Yerxa conta que falou com entusiasmo sobre o livro King Of The Hill, de A. E. Hotchner, e mesmo sem ter adquirido os direitos de adaptação da obra convenceu Soderbergh a adaptar o projeto. O filme foi lançado quatro anos mais tarde e o elogiado drama O Inventor de Ilusões (1993) foi o primeiro lançamento da Bona Fide Productions. "Nosso objetivo era fazer filmes independentes interessantes com os quais nós nos importamos e temos uma conexão emocional", disse.

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