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    Harvey Weinstein, poderoso produtor de Hollywood, acumula décadas de assédios sexuais

    Reportagem do jornal The New York Times acusa o executivo de má conduta sexual contra ao menos oito mulheres. "Eu admito que o jeito que me comportei com colegas no passado causou muita dor e peço sinceras desculpas por isso", assumiu Weinstein.

    Uma das figuras mais poderosas de Hollywood e dos Estados Unidos, Harvey Weinstein foi acusado de assédio sexual por ao menos oito mulheres ao longo dos últimos 30 anos, incluindo as atrizes Rose McGowan e Ashley Judd, informou uma longa reportagem do jornal The New York Times.

    A investigação do jornal ouviu funcionários antigos e atuais dos estúdios Miramax e The Weinstein Company, fundados pelo produtor com seu irmão, Bob Weinstein, além de outras figuras da indústria cinematográfica americana. Muitos pediram anonimato. A reportagem mostra que Harvey entrou com ao menos oito acordos judiciais para abafar as denúncias contra ele. Segundo o NYT, houve queixas realizadas por uma assistente em Nova York em 1990, por atrizes em 1997, por uma assistente em Londres em 1998 e por uma modelo italiana em 2015, entre outras. Como pedem confidencialidade, os acordos impedem a maior parte das mulheres envolvidas de falar sobre o tema hoje em dia.

    Memorando

    "Há um ambiente tóxico para mulheres nesta companhia", escreveu a ex-funcionária Lauren O’Connor em um memorando para toda a empresa, que detalhou diversas condutas inadequadas por parte do executivo em 2015. "Eu sou uma mulher de 28 anos tentando ganhar a vida e ter uma carreira. Harvey Weinstein é um homem de 64 anos, famoso no mundo inteiro e esta empresa pertence a ele. A balança de poder é: 0 para mim e 10 para Harvey Weinstein", escreveu a mulher, que, por meio de sua advogada, não conecedeu entrevista para o jornal após ter entrado em um acordo com o executivo anos antes.

    O texto de O’Connor conta que Weinstein se comportava como um predador sexual diante das mulheres de sua empresa e costumava pedir para suas assistentes que lhe fizessem massagens. O memorando publicado pela executiva diz ainda que o produtor aparecia nu ou seminu sem o consentimento de funcionárias e pedia que elas o observassem tomar banho. 

    Em 2015, a modelo italiana Ambra Battilana encontrou com o produtor no escritório do executivo em um encontro profissional que virou caso de polícia. A noite terminou com a modelo chamando a polícia e acusando o produtor de ter tocado seus seios.

    Em 1997, a atriz Rose McGowan, com 23 anos na época, entrou em um acordo judicial com Weinstein firmado em US$ 100 mil para "evitar litígio judicial" após ter sido assediada pelo produtor em um quarto de hotel durant o Festival de Sundance. A atriz tinha acabado de estrelar o terror Pânico e estava prestes a atuar a série de TV Charmed.

    No mesmo ano, o produtor convidou a atriz Ashley Judd para o quarto de hotel onde estava hospedado em Beverly Hills e apareceu só de roupão enquanto fazia investidas sexuais para a atriz. "Eu disse que não de várias maneiras, várias vezes, e ele continuava, sempre com um novo pedido", contou a artista, que disse que o produtor queria que ela tocasse seu corpo e o visse tomar banho. Ela relata que se sentiu "em pânico", como se tivesse "caído numa armadilha". Na época Judd filmava o suspense Beijos Que Matam. Depois do episódio, Judd atuou em mais dois filmes produzidos pela The Weinstein Co., mas sem que nada parecido com o traumatizante episódio se repetisse.

    Pedido de desculpas

    Em um comunicado enviado ao The New York Times, Weinstein afirmou que vai se afastar da empresa e assumiu a culpa por sua má conduta com mulheres. "Eu admito que o jeito que me comportei com colegas no passado causou muita dor e peço sinceras desculpas por isso. Embora eu esteja tentando melhorar, eu sei que tenho um longo caminho a percorrer", disse.

    No texto, Weinstein ensaia se eximir da culpa por seus atos, mas logo conclui que não deve se escorar em desculpas. "Eu cresci nos anos 60 e 70, quando as regras de comportamento no local de trabalho eram diferentes. Era a cultura da época. Eu aprendi que isso não é desculpa." O produtor contou que irá se afastar de Hollywood e buscar ajuda. "Minha jornada agora será aprender sobre mim mesmo e derrotar meus demônios", disse. Weinstein ainda afirmou ter contratado uma tutora para unir uma equipe de terapeutas para tratá-lo. O executivo revelou que quer ter "uma segunda chance" na indústria, mas sabe que tem "trabalho a fazer para merecer isso".

    Conhecido por militar por políticos do Partido Democrata, Weinstein se apresentava ao público como um defensor das mulheres e já recebeu diversos prêmios humanitários. Na carta aberta enviada ao NYT, o produtor chega a ressaltar os investimentos que fez em programas de promoção da educação voltados para meninas. Em uma triste ironia, foi sua companhia quem distribuiu o documentário The Hunting Ground. Indicado ao Oscar de melhor canção por conta da faixa executada por Lady Gaga, o filme acompanha as sobreviventes de estupros em um campus universitário. A reportagem do The New York Times relembra que o produtor esteve na marcha das mulheres realizada em diversos lugares dos Estados Unidos após a posse de Donald Trump.

    Harvey Weinstein venceu o Oscar de melhor filme por seu trabalho como produtor de Shakespeare Apaixonado. Ele já venceu Tony Awards por suas produções na Broadway. Com mais de 300 créditos na produção de filmes e séries, Weinstein foi o produtor de outros cinco longas vencedores do Oscar de melhor filme, incluindo O Artista, O Discurso do Rei, O Senhor dos Anéis: O Retorno do ReiChicago e O Paciente Inglês

    Outros de seus trabalhos importantes foram Pulp Fiction - Tempo de Violência, Gangues de Nova York, Django Livre, O LeitorBastardos Inglórios e Gênio Indomável.

    Weinstein é conhecido pelas estratégias agressivas que usa para promover seus filmes no Oscar e frequentemente consegue emplacar alguma de suas produções entre as indicadas ao maior prêmio da sétima arte. As campanhas dos irmãos Weinstein já fizeram a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas mudar regras sobre o que é e não é permitido na hora de promover um longa-metragem que visa uma nomeação ao Oscar.

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