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    O Estranho que Nós Amamos: Sofia Coppola explica o tom realista e feminino de sua primeira refilmagem (Entrevista exclusiva)

    Já em cartaz nos cinemas.

    Responsável por sucessos cult do porte de Encontros e Desencontros e As Virgens SuicidasSofia Coppola jamais havia feito uma refilmagem antes de O Estranho que Nós Amamos. Exibido em primeira mão no Festival de Cannes, onde ganhou o prêmio de melhor direção, o longa-metragem apresentou uma série de mudanças em relação à versão original que dividiram a crítica especializada: uns amaram, outros odiaram. Confira nossa crítica!

    Em entrevista concedida ao AdoroCinema, a diretora explicou não só os motivos das modificações feitas mas também o esforço em manter a história o mais realista e feminino possível. Confira!

    MUDANÇAS EM RELAÇÃO AO ORIGINAL

    Ao comparar o novo filme com a versão de 1971, pode-se notar que várias subtramas do original foram suprimidas na refilmagem. "Decidi não usar a personagem da escrava porque esse é um tópico muito importante e não queria tratá-lo de maneira corriqueira", explicou a diretora. "Queria focar nas relações de poder entre homens e mulheres, e nessas personagens que estão presas na casa. Havia uma história de incesto que também não me chamou atenção. Não quis retratá-las como loucas, mas como pessoas afetadas por causa de sua marginalização do mundo. Isso as tornou mais plausíveis para mim."

    Questionada se tais alterações teriam sido fruto de algum incômodo causado pelo filme original, Sofia descartou tal possibilidade. "Não diria incômodo, mas quando vi o filme original pensei que seria interessante abordar o tópico das relações de poder entre homem e mulher pela perspectiva feminina. Achei que seria interessante ver o outro lado. Quis dar voz a elas."

    ELENCO ESTELAR

    Se em seus filmes anteriores Sofia Coppola escalou as jovens Kirsten Dunst, Elle FanningScarlett Johansson e Emma Watson, em O Estranho que Nós Amamos a diretora optou pelos badalados Colin Farrell e Nicole Kidman.

    "Sempre admirei Nicole e quis trabalhar com ela. Achei que seria perfeita para o papel da governanta da casa. Adoro o senso de humor perverso dela, é uma atriz incrível. Também queria trazer algo mais realista, não queria fazer um melodrama exagerado. Sabia que Nicole ajudaria a tornar a história mais plausível."

    "Além disso, tinha que achar um homem forte o suficiente para lidar com essas mulheres, alguém que fosse carismático e encantador para todas. Tinha que ser alguém sexy e complicado. Colin é assim, muito charmoso, carismático, um grande ator. E o personagem do livro é irlandês, então achei interessante adicionar mais essa camada ao filme, esse aspecto exótico do estrangeiro. Queria muito criar um contraste entre essas mulheres mais plácidas em seu mundo cor-de-rosa e esse homem sujo, peludo e sombrio."

    REENCONTROS

    Em O Estranhos que Nós Amamos, Sofia Coppola volta a trabalhar com Kirsten Dunst e Elle Fanning, após as experiências em As Virgens SuicidasMaria Antonieta (com Kirsten) e Um Lugar Qualquer (com Elle). A diretora falou sobre como foi este reencontro.

    "Eu as amo, são atrizes muito interessantes e nós nos damos muito bem, então realmente gosto de trabalhar com elas. E foi bom vê-las em papéis diferentes. Nunca vi Kirsten interpretar uma personagem tão reprimida. Foi divertido. Da última vez que trabalhei com Elle, ela tinha 11 anos, então também foi bom vê-la interpretar essa personagem que não tem nada a ver com sua personalidade. Sabia que ela conseguiria."

    PAISAGEM SULISTA

    "As pessoas me perguntaram se eu não iria transportar a trama para outro cenário, outro tempo, mas há algo muito exótico para mim sobre o Sul dos Estados Unidos", afirma a diretora. "Hoje em dia aquela região, com suas maneiras e tradições, mudou muito. Essas mulheres foram criadas para serem amáveis com os homens, para cuidarem deles, e naqueles tempos não havia nenhum homem por perto. Essa ideia me interessou muito. Quis explorar o que significava para aquelas mulheres serem deixadas para trás naquela época."

    UNIVERSO GÓTICO

    "Adorei embarcar no gênero do gótico sulista e nunca tinha feito nenhum tipo de gênero em termos de cenário", disse Sofia Coppola. "Esse trabalho com a fotografia se deu mais durante a segunda metade do filme, porque queria desarmar o público e começar a mostrar que aquele mundo delicado e feminino no qual o personagem é acolhido, que é como se fosse uma boa fantasia, era na verdade algo sombrio, algo do qual não suspeitávamos. Na segunda metade, o filme se torna mais gótico por causa dos candelabros, dos portões e dos ângulos de câmera. Queria realmente criar essa claustrofobia através da razão de aspecto na qual filmamos, queria que o público se sentisse preso com elas naquela casa."

    SEM ANACRONISMO

    Em Maria Antonieta, Sofia Coppola surpreendeu o público ao inserir um All Star dentre a coleção de sapatos da personagem-título. Já que em O Estranho que Nós Amamos a diretora estava de volta aos filmes de época, será que teria pensado em algum anacronismo parecido?

    "Não, são dois filmes muito diferentes. Maria Antonieta é um filme pop, relacionado ao mundo dos adolescentes, é um filme com um espírito irreverente. Dessa vez, quis ser mais naturalista e mais fiel ao período do filme para atingir o drama da história e a tensão sexual."

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