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    Cine Ceará 2017: O humanista Uma Mulher Fantástica impressiona na abertura do festival

    Uma abordagem sincera e digna sobre os preconceitos diários em torno dos transexuais.

    O cartaz oficial do 27º Cine Ceará traz uma homenagem ao lustre principal do majestoso Cine São Luiz, o primeiro cinema inaugurado pelo grupo Severiano Ribeiro, ainda em funcionamento com seus pouco mais de mil lugares. Com quase 80% de ocupação, a tradicional sala foi sede da abertura do festival e, em meio aos (habituais) muitos discursos e a exibição do curta-metragem coletivo A Luz da Mata, feito em animação, trouxe uma pequena peróla: o longa chileno Uma Mulher Fantástica. Confira nossa crítica!

    Exibido em primeira mão no Festival de Berlim deste ano, de onde levou para casa os prêmios de roteiro, o do júri ecumênico e o Teddy, o novo longa-metragem do diretor Sebastian Lelio (Gloria) é, na verdade, um grande libelo em nome da igualdade de gêneros. A partir da história de amor entre a transexual Marina e Orlando (Francisco Reyes, muito bem), a narrativa oferece um olhar aprofundado sobre os preconceitos existentes ao redor não apenas deste relacionamento, mas da própria existência de Marina como pessoa.

    Extremamente humano e girando em torno de sua personagem principal, Uma Mulher Fantástica surpreende especialmente pelo subtexto empregado em diálogos e situações, reveladores sobre o olhar enviesado da sociedade sobre transexuais a partir do não-dito - e posteriormente, é claro, também pelo dito e feito. Entretanto, mais do que meramente levantar o assunto em discussão, chama a atenção a forma como o diretor construiu sua protagonista fugindo dos estereótipos, dando-lhe uma dignidade pouco vista no cinema.

    Tamanha ambientação ganha ainda mais força pelo fato da intérprete de Marina ser, também, transexual. A ótima Daniela Vega surpreende com uma personagem contida, cujos sentimentos são negados de forma covarde pelo preconceito arraigado. É realmente uma pena que o Festival de Berlim não tenha aproveitado a oportunidade para premiá-la, não só pelo mérito demonstrado em cena como, também, pelo simbolismo que tal ato teria perante à presença (ainda ínfima) de atrizes trans no cinema em geral. A expectativa, desde já, é se o júri do Cine Ceará não cometerá o mesmo engano.

    O Cine Ceará chega hoje ao segundo dia com a exibição de Malasartes e o Duelo com a Morte e dos quatro primeiros curtas da mostra competitiva. Acompanhe nossa cobertura diária no AdoroCinema, pelo site e também pelo Instagram Stories (@adorocinema).

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