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    3%: "Na segunda temporada, Michele finalmente se tornará quem ela é", diz Bianca Comparato (Entrevista)

    Atriz fala sobre o reconhecimento internacional da série brasileira da Netflix.

    Série de língua não-inglesa da Netflix mais assistida nos Estados Unidos, a brasileira 3% vai ganhar uma segunda temporada, com previsão de lançamento para 2018. Em um elenco formado em sua maioria por jovens pouco conhecidos, os nomes que se destacam são os de Bianca Comparato e João Miguel. A atriz esteve recentemente em Miami, nos Estados Unidos, onde conversou com o AdoroCinema sobre a série.

    Confira como foi o bate-papo!

    Muitos fãs vivem uma relação de amor e ódio com a sua personagem...

    Bianca Comparato: Era esse o ponto! Eu a construí assim, ela ainda está em processo de construção, ainda está tentando descobrir quem é, quem quer ser, no que acredita e em que mundo deseja viver. Isso é bom para mim. Era isso que eu queria: minha personagem é misteriosa, você não a conhece muito bem.

    Qual foi a parte mais difícil, tanto emocional quanto fisicamente, da produção?

    No final da temporada, cada vez mais características dela são reveladas, muitas emoções brotam e ela percebe que o mundo dela não é o que parecia ser, que tudo no que ela acreditava era mentira. Essa foi a parte mais difícil da produção para mim, especialmente o último episódio. Foram cenas desafiadoras tanto física quanto emocionalmente.

    Como tem sido o feedback da série?

    Já fui reconhecida duas vezes aqui nos Estados Unidos. Foi bem estranho ser reconhecida fora do meu país. Já recebi mensagens e e-mails e cartas de fãs de todos os lugares, pelo Twitter, pelo Instagram. Fãs do Canadá, de alguns países do Leste Europeu, da Rússia… É uma loucura, mas é muito bom. Isso significa que as pessoas estão vendo nossa série, que os fãs de ficção científica estão vendo. É ótimo.

    Às vezes a ficção científica e a realidade são complementares. Ao construir sua personagem, você estudou algumas pessoas reais ou eventos políticos que aconteceram?

    Quando fui convidada para fazer parte da série, ainda não havia um roteiro. O que me atraiu no projeto foi exatamente o fato de ser uma série distópica que fala sobre nós mesmos. Acho que vivemos em um momento político muito difícil, muito extremista e estamos caminhando em direção a uma divisão do mundo. Em nosso mundo, os mais ricos não representam 3%: é um 1% ou menos da população. Então o fato de que a série falava sobre isso foi importante para mim. Não sei o que acontecerá com o mundo, especialmente com todas as inovações tecnológicas, mas espero que caminhe em uma direção diferente da retratada em 3%. A série é um alerta: precisamos mudar como agimos politicamente, mudar nossas leis, mudar a estrutura do sistema de fato. Isso pode acontecer. Estamos mudando as coisas em termos de energia. Os transportes estão mudando. Muita coisa irá mudar e espero que possamos fazer mudanças melhores para a humanidade.

    O que podemos esperar da segunda temporada?

    Acho que, na segunda temporada, minha personagem finalmente se tornará quem ela é. Acho que os roteiristas estão escrevendo nessa direção. Minha personagem amadurecerá e descobrirá quem é e no que acredita.

    Durante a primeira temporada, fiquei com a impressão de que Fernando estava mais investido na relação do que Michele. Era isso mesmo? Como você vê esse relacionamento entre os dois, principalmente agora que eles estão separados?

    As ações de Michele refletem a sua própria crise interior, a sua busca por descobrir sua identidade. Acho que ela não esperava se apaixonar por ele, ele apareceu na vida dela em um momento ruim, um momento em que ela estava em uma jornada pessoal. Então, acho que é isso que os separou. Para ele, nada mais importava além de Michele; e Michele se importa com ele, mas precisa resolver outras coisas antes. Então, ela ficou dividida. Não sei o que acontecerá na segunda temporada, mas eles vão se distanciar, infelizmente.

    Você acha que ela estava apaixonada por ele?

    Acho que sim. Os dois precisavam um do outro da mesma forma. Ela precisava de alguém que estivesse ao lado dela, que a ouvisse e Fernando foi a única pessoa com quem ela conseguiu se abrir. A vulnerabilidade dele fez com que ela também se permitisse ser vulnerável, criando um espaço seguro no meio de um processo em que tudo é perigoso, em quem não se pode confiar em ninguém. Fernando foi alguém que foi honesto com ela e acho que, por isso, ela se apaixonou por ele. Mas acho que isso não foi suficiente. Ela estava em outro momento, então…

    O que você pode nos falar sobre o outro lado? Não vimos muito sobre o modo de vida dos 3% na primeira temporada…

    Para falar a verdade, ainda não sei como será. Tenho conversado bastante com Pedro Aguilera, nosso roteirista e criador, e tenho enviado também algumas das coisas que leio sobre biologia, genética e novos meios de transporte para ele. Perguntei a ele o que comeríamos em 3%. Será carne? E como faremos com as vacas? Então, sem carne. Isso quer dizer que seremos todos vegetarianos? Minha cabeça está a mil em relação ao que vai acontecer porque é uma série de ficção, mas é muito bom quando, de certa forma, a ficção tem esse elemento de realidade com o qual você pode se identificar, que te faz pensar como será o futuro. Então, não sei exatamente o que podemos esperar, mas estamos trabalhando muito para criar este mundo, este novo mundo, da melhor forma possível. Nós também falaremos do mundo dos 97%. A segunda temporada é interessante porque abordamos dois mundos, não só o dos 3%. Sairemos do processo e entraremos nos mundos de verdade.

    Você sabe onde será filmada a segunda temporada?

    Em São Paulo e também acho que será filmada em outros estados. Será tudo no Brasil. Do mesmo jeito como fizemos a primeira temporada, nada mudará nesse aspecto. Acho que filmaremos em outros lugares porque não sei onde o mundo dos 3% será. Precisamos de árvores, de natureza. É uma ilha. Precisamos de mar e coisas do gênero.

    A perda do irmão é um elemento muito importante para a formação do caráter de Michele. Como você está se preparando para lidar com o fim desse trauma?

    Ainda não li os roteiros da segunda temporada, não sei ainda o que é verdade ou não. Michele ouviu muitas mentiras e é possível que seu irmão esteja vivo. Penso nisso às vezes. Acho que o importante é que sua crença está quebrada e acho que todo mundo consegue se identificar com a perda e com o fato de ver seu mundo ser tirado de você. A certa altura da vida, todo mundo passa por isso. Você perde a noção das coisas que faz porque suas crenças morrem. Já perdi pessoas na minha família, então quando penso na perda de Michele, me identifico. Como atriz, não me importo de usar minhas experiências pessoais no trabalho porque acho que isso torna a interpretação mais honesta, faz com que o público possa se identificar melhor com o que está acontecendo. É muito importante fazer uma ficção científica ser humana porque, do contrário, ela será falsa, muito distante. Então, minha ideia é sempre tentar trazer as emoções humanas ao centro da interpretação para tornar tudo mais realista.

    Como vê sua trajetória até chegar em 3%?

    Não foi fácil, mas se você trabalhar duro, acreditar e não desistir, você, eventualmente, alcançará algo próximo do que você deseja. Pessoalmente, comecei a escolher as personagens que queria fazer, comecei a buscar histórias interessantes e, sem perceber, acabei entrando no mundo das séries. No Brasil, fiz uma série pequena, porém aclamada pela crítica, na MTV; fiz a versão brasileira de In Treatment [Sessão de Terapia] e acho que depois disso, a Netflix me procurou e eu acabei sendo uma boa escolha porque não tinha nenhuma obrigação contratual com nenhuma emissora. A maior parte dos atores no Brasil tem contratos com a Globo. Então, estar livre foi o primeiro passo para ser capaz de fazer o que eu quisesse com minha carreira, para que eu escolhesse o que eu queria fazer. De certa forma, me identifico com minha personagem porque também passei por um processo de tentar encontrar minha própria voz. Acho que tento encontrar as coisas que direi para a imprensa, que direi com minhas personagens e com meus projetos. Realmente penso sobre essas coisas, levo meu trabalho a sério. Não basta me convidar, quero que o projeto seja importante. É por isso que 3% é incrível: a mensagem econômica e social é muito pertinente e muito importante hoje em dia.

    O AdoroCinema viajou a convite da Netflix.

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