Minha conta
    Há mais de quatro décadas afastada do cinema, Doris Day faz 90 anos

    Atriz de clássicos como O Homem que Sabia Demais, de Hitchcock, hoje se dedica aos cuidados dos animais.

    por Renato Hermsdorff

    Clara Bixby foi uma das atrizes mais populares de Hollywood dos anos 1950-1960. Estrelou 39 filmes, é até hoje uma das recordistas de bilheteria, ranqueada na posição 24 na lista da revista Premiere das Maiores Estrelas do Cinema de Todos os Tempos; assina não apenas uma, mas duas estrelas na Calçada da Fama (como atriz e cantora) e, mesmo assim, talvez você nunca tenha ouvido falar dela.

    Mas Doris Day você conhece, certo? Nascida Doris Mary Ann Kappelhoff, em Cincinnati, Ohio, no dia 3 de abril de 1924 – portanto, há exatos 90 anos – Clara Bixty era o apelido da atriz Doris Day, entre os amigos mais íntimos. A alcunha veio de uma brincadeira feita pelo ator Billy De Wolfe durante as filmagens de No, No, Nanette (1950). A explicação é simples: para ele, Doris Day não tinha cara de Doris Day, mas de Clara Bixby.

    Agora, se mesmo assim, você não estiver familiarizado com o nome, basta perguntar à sua mãe (ou à sua avó, dependendo da sua idade), se ela conhece a música Que Sera Sera (Whatever Will Be, Will Be) e provavelmente os olhos dela se encherão de lágrima – o que te dará uma noção do alcance da carreira dessa venerada atriz, que o AdoroCinema tem o prazer de homenagear. Que Sera Sera faz parte da trilha do talvez mais popular filme estrelado por Doris: O Homem Que Sabia Demais (1956), de Alfred Hitchcock (papel que quase foi recusado pela loira devido ao seu conhecido medo de voar).

    Se mesmo assim, está difícil chegar lá, não se culpe. Apesar de tamanho sucesso, Doris está afastada do cinema desde 1968, quando estrelou o filme Tem um Homem na Cama da Mamãe. Hoje, ela se dedica à proteção aos animais.

    Foi cantando que Doris se tornou famosa, depois que um trágico acidente automobilístico em 1937 a impossibilitou de ser dançarina, confinando-a a anos de cadeira de rodas. Tempo suficiente para que a jovem se dedicasse a estudar canto. Em 1939, ela começou a cantar com a Les Brown & His Band of Renown, e ganhou projeção mundial com o hit Sentimental Journey, em 1945. Seguiu carreira solo e gravou cerca de 30 álbuns (mais de 650 canções) até 1967.

    Convencida por seus agentes de que poderia também atuar, o primeiro papel de Doris foi em Romance em Alto-Mar (1948). E já no ano seguinte, emplacou Meus Sonhos te Pertencem e Mademoiselle Fifi. Depois de estrelar alguns filmes pela Warner Bros., em 1953 veio o maior estouro da atriz, o sucesso Ardida como Pimenta, declaradamente, o preferido da atriz, em que ela interpreta a temida pistoleira Calamity Jane.

    Na esteira, vieram o Céu no Coração (1954), Ama-me ou Esquece-me (1955) e o próprio O Homem que Sabia Demais, quando viveu a esposa de James Stewart em um dos melhores filmes de Hitchcock, em que seus personagens se viam envolvidos acidentalmente em uma trama internacional de assassinato durante as férias no Marrocos. Em 1959 foi a vez de Confidências à Meia-Noite, responsável por sua única indicação ao Oscar. Mesmo assim, Day subiu ao palco da premiação seis vezes como cantora, duas delas interpretando canções vencedoras ("Secret Love", de Ardida como Pimenta; e a preferida da sua mãe: "Que Sera, Sera").

    No início dos anos 1960 – já casada com o produtor Martin Melcher, que acabou por se tornar o agente de Doris – ela estoura com o sucesso Já Fomos Tão Felizes (1960). Foi a década de Favor Não Incomodar (1965), A Espiã de Calcinhas de Renda (1966), Onde Estavas Quando as Luzes Se Apagaram? (1968) e, por fim, o derradeiro Tem um Homem na Cama de Mamãe (1968). No mesmo ano, Martin faleceu e, desde então, ela nunca mais fez um filme.

    Pouco antes de morrer, Melcher havia assinado um contrato com a rede CBS – ao que tudo indica, sem o conhecimento da atriz – para que Doris estrelasse sua própria série de TV. The Doris Day Show foi ao ar de 1968 a 1973, repetindo a boa audiência da atriz no cinema.

    Doris teve um filho, Terry Melcher, produtor musical de sucesso, que chegou a trabalhar com os Beach Boys, The Byrds, entre outros, e que veio a falecer em 2004.

    Reclusa, hoje Doris Day comanda a fundação Doris Day Animal League, que milita em prol dos animais. Reza a lenda que a causa foi abraçada durante as filmagens de O Homem que Sabia Demais, quando a atriz teria se espantado com o tratamento local dado a camelos, cabras e outros animais no mercado de Marrakech.

    Mesmo sem nenhum homenzinho dourado na estante, pelo conjunto da carreira cinematográfica, Day ecebeu o prêmio Cecil B. DeMille e da Associação de Críticos de Los Angeles; pelo mesmo motivo, um Grammy (2006), além da “Presidential Medal of Freedom” (2004), honraria da presidência da república dos Estados Unidos.

    Em 2011, Doris Day lançou o álbum My Heart, que entrou para o top 10 da parada britânica, fazendo dela a artista mais velha a emplacar um disco de inéditas na lista. Resta torcer para um retorno ao cinema. Que Sera Sera.

    facebook Tweet
    Comentários
    Back to Top