Minha conta
    Gramado 2013: Bruno Barreto defende indicação ao Oscar para Glória Pires

    Flores Raras será lançado nos Estados Unidos visando indicações ao Oscar para a atriz brasileira e também para Miranda Otto.

    por Francisco Russo

    Fernanda Montenegro é a única atriz brasileira a ser indicada ao Oscar, certo? Se depender de Bruno Barreto, em breve ela terá companhia. O diretor revelou que seu novo filme, Flores Raras, será lançado em Los Angeles e Nova York na última semana de outubro ou na primeira de novembro, visando justamente indicações à premiação máxima do cinema para suas duas protagonistas: Glória Pires e Miranda Otto.

    Bruno Barreto e Glória Pires na coletiva de imprensa de Flores Raras @ Edison Vara Press Photo

    Barreto justifica a crença em indicações por "não ser fácil encontrar cinco papéis femininos fortes para concorrer ao prêmio, e este filme tem dois". Além disto, o momento atual onde o casamento homossexual tem sido legalizado em vários países pode servir de impulso para a promoção do longa-metragem. Entretanto, o diretor lembrou que Flores Raras não pode concorrer a uma vaga de melhor filme estrangeiro, já que cerca de 95% dos seus diálogos são em inglês.

    Bruno Barreto concedeu uma coletiva hoje pela manhã em Gramado, ao lado da protagonista Glória Pires e das produtoras Paula Barreto e Lucy Barreto. Confira os principais destaques deste bate-papo.

    DIFICULDADES COM ORÇAMENTO

    Um dos temas abordados na coletiva foi a dificuldade em conseguir patrocínio para uma história de amor homossexual. A produtora Paula Barreto confirmou que muitas empresas privadas até gostavam do projeto, mas depois confessavam que seria difícil atrelar sua marca a um filme com este tema. "Na hora de vender produtos para os homossexuais, os negros e os pobres as empresas fazem propaganda na televisão, mas na hora de investir num produto cultural que fala destas pessoas não bota", reclamou a produtora.

    "Nunca na minha vida precisei pegar empréstimo pessoal para acabar um filme, mas o crédito da LC Barreto estava esgotado. Porque a gente não para um filme!", disse Bruno Barreto. Paula e Lucy também confirmaram que investiram dinheiro pessoal para a conclusão do filme.

    MOMENTO APROPRIADO

    Apesar de todos os problemas enfrentados para obter os R$ 13 milhões necessários para concluir Flores Raras, o diretor Bruno Barreto acredita que o filme chegue aos cinemas em um momento apropriado. Glória Pires falou um pouco sobre o assunto: "Ele vem em um momento onde o assunto está em alta por aqui, e no mundo todo, com algumas pequenas diferenças. Recebi alguns e-mails lindos de pessoas que ainda enfrentam preconceito na sua família e vivem escondidos, ainda é uma situação de muito sofrimento que eu espero, como atriz, ajudar com esta personagem."

    Glória revelou ainda o porquê de querer tanto interpretar Lota de Macedo Soares: "A primeira coisa que me atraiu foi o fato desta história não ser conhecida para nós, brasileiros. Em segundo lugar, o fato dela viver, nos anos 1950 e 1960, uma relação homossexual que não era aceita. Isto para mim, como atriz, era um grande desafio. Como a arte está sempre interferindo na realidade, e há esta mão dupla, espero que o filme possa ajudar as pessoas a encararem esta situação de forma mais normal, sabendo que todos nós somos diferentes mas colocando os seres humanos com os mesmos direitos e possibilidades."

    PONTO DE MATURAÇÃO

    Glória foi convidada a interpretar Lota de Macedo Soares ainda em 1995 pela produtora Lucy Barreto e teve que aguardar até 2012 para que as filmagens enfim saíssem do papel. A atriz falou um pouco sobre este tempo de espera. "Acredito que as coisas tenham um tempo para acontecer e isto eu vivi realmente. Eu na expectativa e eles trabalhando para que o filme acontecesse. Houve este amadurecimento, pessoal e profissional, e acho que esta foi a maior preparação que pude ter."

    A atriz revelou ainda o que a ajudou a encontrar o perfil de sua personagem. "Quando estive mais perto das filmagens passei a me aprofundar mais. Recebi um livro muito importante, que embora fosse pequeno tinha um panorama muito rico da situação homossexual no Rio de Janeiro na década de 1950. Foi um livro que me trouxe muito da Lota através das cartas que a Bishop escrevia para os amigos, onde ela sempre citava a Lota, e tambem alguns depoimentos de amigos da Lota após a morte dela, como foi o caso da Rachel de Queiroz. Através deles percebi que a Lota era uma pessoa extremamente generosa e que aglutinava. Quando ela estava em um ambiente, ela era o ambiente. Foi aí que tive a dimensão do caráter desta mulher."

    ATUAR EM OUTRA LÍNGUA

    Na coletiva de Flores Raras realizada no Rio de Janeiro, a coach Barbara Harrington disse que Glória Pires era uma das poucas atrizes que tinha visto que conseguia atuar em outra língua com a mesma intensidade emocional, sem que ocorra um certo delay devido à tradução da fala. Perguntamos a Glória como era o seu processo para chegar neste objetivo. "Fico muito feliz que tenha sido este o resultado, mas não sei realmente a que isto se deve. Instinto, paixão, entrega... não sei que nome dar nem como definir isto. Mas fico feliz e espero que este filme possa abrir portas no mercado americano."

    Bruno Barreto também falou sobre o assunto. "Não tem explicação. O Antonio Banderas viveu muitos anos nos Estados Unidos, é casado com uma americana, mas não vingou. Você sente o delay nele, assim como na Penélope Cruz. É algo incrível."

    MIRANDA OTTO

    Bruno Barreto contou que Miranda Otto não era sua primeira opção para interpretar Elizabeth Bishop. "Falávamos muito da Emily Watson, que chegou muito perto de fazer o filme. Aconteceu um problema prático. Quando o filme ficou muito perto de ter o dinheiro para ser feito, em fevereiro de 2012, a gente tinha que terminar o filme em 3 de agosto, porque a Glória iria fazer (a novela) Guerra dos Sexos. Então houve um problema para convencer uma atriz a se mudar para o Brasil em apenas dois meses e meio, para que desse tempo para terminar as filmagens até agosto. Já conhecia a Miranda pelo trabalho dela em A Natureza Quase Humana, do Michel Gondry, e havia uma certa semelhança física dela com a Emily Watson, que era nossa primeira escolha. Ela adorou o projeto e aí foi."

    LEIA MAIS:

    Glória Pires é aplaudida de pé na abertura do festival

    Começa o Festival de Gramado

    facebook Tweet
    Pela web
    Comentários
    Back to Top